sexta-feira, janeiro 26, 2007


Como é que nós medimos o tempo? O que é muito tempo e pouco tempo? Como é que o tempo se apresenta perante o nosso quotidiano e como é que nós o conseguimos gerir? Certamente terá a ver com cada situação que se nos depara pela frente. Por exemplo: O tempo que dispendo a tratar dos meus filhos parece-me sempre curto quando visto de uma macroperspectiva, mas, por outro lado, cada acção que empreendo junto dos meus filhos, cada acção isolada, parece-me sempre uma enormidade de tempo. Mudar as fraldas e vesti-los a seguir ao jantar. Esta é uma acção que leva cerca de 30 minutos, mas que para mim me parece infindável enquanto estou a empreender essa acção. Pô-los a dormir é a mesma coisa. São cerca de 20 minutos que me parecem uma eternidade, mas após estas acções estarem feitas e quando finalmente tenho um pouco de tempo para mim, quando penso no tempo que dispendi com os meus filhos ao longo do dia (nos dias de semana será correcto falar ao longo da noite), este tempo dispendido parece-me sempre curto. O tempo que gasto a seguir aos meus filhos estarem deitados, o tempo gasto e investido em mim e na paula é de facto muito tempo quando comparado com as acções anteriores, mas parece-me sempre muito pouco tempo. Enfim, o tempo é sempre relativo e quantificável apenas por um factor: os segundos, minutos e horas. Tudo o resto é absoluta divagação e oportunismo.

Hoje a notícia que me chamou a atenção no rádio foi uma descoberta científica. Vários cientistas nos EUA, com inclusão de uma portuguesa na equipa, descobriram uma zona do cérebro que regula e condiciona o vício do tabaco. Esta descoberta foi feita após um acidente cardio-vascular de um sujeito que fumava cerca de 2 maços de tabaco por dia. Após este acidente, que lhe afectou uma determinada zona do cérebro, o sujeito ficou sem vontade de fumar e inclusivé sem qualquer referência ao vício que o tabaco lhe proporcionava. A equipa de cientistas que descobriram este acontecimento apressaram-se a dizer que ainda vai levar muitos anos até descobrirem um medicamento ou uma forma eficaz de se condicionar e acabar com os vícios. A minha primeira reacção foi de satisfação. Finalmente poderei acabar com o meu vício do tabaco de uma forma pouco penosa. Mas imediatamente a seguir foi de preocupação. Partindo deste princípio todos os vícios e desvios e mesmo comportamentos poderão passar a ser controlados. Vai passar a haver uma desresponsabilização total por parte de cada um de nós, partindo do pressuposto que existe sempre uma forma de contornar e remediar a questão sem qualquer esforço. Basta que "eles" me dêm uma pílula e a coisa volta ao lugar, ou seja, poderei fazer todos os disparates que a seguir existe um antídoto para remediar tudo. Passa a não existir uma noção de causa/consequência. Passa a não haver uma noção de responsabilização pelos nossos actos... Passamos a ser umas marionetes tontinhas, facilmente controláveis e dependentes de alguém que teve 2 dedos de testa para perceber e de facto ser responsável pelos seus interesses. Vamos ver como é que isto evolui. Naturalmente se eu estivesse a morrer por causa o tabaco ou das drogas o meu discurso seria absolutamente diferente.

Como pensamento positivo para hoje deixo a série de TV Dr. House. Mais um produto de televisão que me entusiasma e que dita a nova linguagem de tv que apenas está dependente dela e não aparece como um subproduto subjugado ao cinema. Produção imaculada, originalidade no argumento, construção de personagens verdadeiramente fantástica, com destaque para a personagem do Dr. House. Sinto que estamos a atravessar uma fase de ouro da televisão. As séries, principalmente as séries americanas, são verdadeiramente impressionantes e nada devem ao cinema ou a outro meio. São um formato que de facto se dá bem no meio televisão e com um requinte de produção ao nível das grandes produções de hollywood. O seu formato, estendido ao longo de vários episódios que contam pequenas histórias integradas numa grande história, é absolutamente adequado ao meio tv e pensado para prender as pessoas a este meio frio. Na quietude das suas casas, com todo o conforto circundante e com uma grande produção assente em bases inteligentes, mas sem nunca perder o rumo da comercialização, estas séries estão a revolucionar, lentamente e silenciosamente o meio tv e a criar novas bases para a standarização futura da televisão. Mas não só. Eu vejo estas séries no meu computador, após um download da net. Na verdade a tv foi ultrapassada pelo meu portátil e vejo estas séries no conforto das meus lençois e rodeado de almofadas. Estamos numa fase importante e transaccional dos nossos hábitos de consumo de séries de ficção. Bem hajam estas grande produções. Venham mais...

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