terça-feira, novembro 27, 2007

segunda-feira, novembro 19, 2007


Ultimamente tenho dedicado o nosso tempo de leitura a assuntos técnicos relacionados principalmente com comunicação e branding. Tem sido fascinante descobrir alguns autores e constatar a vitalidade e o optimismo com que se encara os novos tempos. Estamos a atravessar uma fase de absoluta disrupção com os modelos instalados e a mudar hábitos de consumo e mesmo sociais a uma velocidade gigantesca.
Entre os vários autores que temos lido, Seth Godin, Tom Peters, Malcolm Gladwell, Caspian Woods, Chris Anderson, Kevin Roberts, Wally Ollins, Polly LaBarre, Al Ries, Jack Trout, nordstrom e ridderstrale, Douglas Atkins, entre muitos outros, houve particularmente 1 que nos chamou a atenção. Precisamente aquele que é contracorrente e que de uma forma inteligente e sustentada destrói e desconstrói todo este novo optimismo com que encaramos o novo "homo consumidoris".
Naomi Klein no seu provocador livro "NO LOGO", critica duramente as grandes multinacionais e as agências de publicidade e de Branding que legitimam os avanços impiedosos das grandes empresas, sem olhar a meios e pondo totalmente de lado o factor humano, apesar dos seus planos de marketing imaculados e estratégias de Branding memoráveis.
O que nos espantou foi a simplicidade,a honestidade e a fundamentação usada por esta autora para exprimir este sentimento de frustração e incerteza que assola a mente de qualquer consumidor responsável.
E ainda o mais espantoso é que esta autora é praticamente referida por todos estes autores que mencionamos como uma espécie do "dark side" do branding e da publicidade, mas sempre com respeito e com muito, mas muito cuidadinho.
Pelo contrário, Naomi Klein faz-nos reflectir sobre esta geração de empreendedores, sem qualquer piedade e com absoluta consciência da sua argumentação por forma a expôr os podres da nossa sociedade com o intuito de conseguirmos ter um mundo um pouco melhor, mais transparente e acima de tudo mais justo... para todos, sem excepção.
É uma espécie de terrorista que actua em nome dos consmidores desprevenidos.
Todos os livros que agora aparecem sobre Branding parece afirmarem-se como uma resposta a Naomi Klein. Quase que se justificam como uma legitimação das grandes empresas para poderem fazer o que estão a fazer. É errado... Naomi Klein está a expressar a sua opinião e a dar voz à maior parte dos consumidores que não sabem como protestar contra o apetite voraz das grandes corporações sem qualquer pingo de arrependimento do que fazem.
Deusificar Naomi Klein, ou fazer do seu livro uma espécie de bíblia, é dar um tiro no pé. Vivemos da comunicação e fazemos do Branding uma das ferramentas para fazer com que a nossa actividade profissional valha a pena. Necessitamos do Branding e precisamos das grandes empresas para justificar a nossa existência (e para termos a oportunidade de construir projectos realmente interessantes e com uma abrangência interessante). Mas não nos podemos esquecer dooutro lado, como consumidores, como figurantes num tecido social que imprime a sua velocidade dependente destas grandes empresas... e é neste papel (com o previlégio de conhecermos os dois lados) que apreciamos esta disrupção.
Venham mais Naomi's... E por favor não respondam directamente. Ao optar por esta solução, aquele que responde certamente que é culpado...

sexta-feira, maio 18, 2007


As sextas feiras são um dia tramado. É aquele dia em que acordamos muito bem dispostos quando as coisas estão a correr normalmente e muito mal dispostos quando as coisas não estãoa correr bem, pois falta-nos o tempo e subitamente já é sexta feira! É um dia também muito propício a fechar todos os assuntos pendentes durante a toda a semana e limpar a secretária para iniciarmos a semana seguinte em força. Hoje esta sexta-feira não me está a correr bem. devia ter acabado uns textos para a Nestlé, mas estou sem imaginação absolutamente nenhuma apesar das maquetes estarem prontas e só faltar mesmo os conteúdos. estão todos na minha cabeça, mas não estou a conseguir encontrar uma solução lógica para expô-los no papel. Enfim, espero que ainda encontre um fio condutor.

Aproveito estes tempos mortos e frustrantes para me debruçar sobre outros assuntos aqui neste meio. Desta vez reflicto sobre a importância deste espaço, deste espaço aqui, deste blog. Qual é a utilidade de tudo isto? Para que é que gastamos horas e horas a expôr a nossa vida privada a quem quer que seja e qual a utilidade de tudo isto? No meu caso não existe um fio condutor temático do próprio blog. É apenas um repositório de recordações para que mais tarde daqui a muitos anos possa encontrar uma utilidade nisto. Talvez o faça para instituir uma espécie de herança para os meus filhos sobre o tempo que corre, sobre o tempo que eles nunca se irão lembrar e que talvez possam encontrar alguma utilidade nestas linhas. Para nós, os pais são pais, não são pessoas. Não têm uma vida própria e as suas decisões estão sempre correctas. Só há poucos anos é que comecei a conseguir discernir desta diferença entre o estatuto de pai ou mãe e de pessoa. A mesma coisa acontecerá aos meus filhos que durante toda o seu processo de crescimento não lhes será possível observarem os nossos hábitos como hábitos de pessoas normais, de pessoas apenas. Seremos sempre os pais e nada mais do que isso. Estas linhas talvez possam revelar uma outra faceta mais humana aos meus filhos.

Mas não retiro apenas essa utilidade deste meio. Pratico também a minha fluência escrita e uma rotina de conseguir expôr pensamentos, opiniões, divagações.

Apesar de parecer uma escrita verdadeira, na verdade não o é. É próxima da verdadeira, pois existe sempre a preocupação de alguém estar a espreitar, de alguém passar a considerar a minha pessoa através desta linhas, por isso há sempre algum cuidado para que as coisas sejam no mínimo coerentes e com alguma saúde. Apesar de tudo torna-se divertido este exercício quase diário. Obriga-me a pensar as coisas e muitas vezes dou por mim a prestar atenção a determinados detalhes que vão acontecendo á minha volta, para lhes poder extrair algum sumo e assim ter algum assunto para escrever, para pensá-lo e acima de tudo passar agarrado a estas teclas algum "quality time".

Este post é mesmo o reflexo desse lento passar do tempo em que não há nada para fazer ou as coisas estão-nos a sair mal. É também agradável ver o nosso blog a crescer com mais posts. Essa é uma boa sensação.

Mais um pensamento positivo para hoje. Antes disso, estes pensamentos positivos cumprem uma função. função de dar referenciais sobre as coisas que consumimos nestes tempos, sobre as coisas que de alguma forma nos são relevantes. Vai ser interessante daqui a alguns anos verficar essa palete de gostos aqui expressa e mais interessante ainda, por exemplo, para os meus filhos quando se apreceberem que afinal o seu pai também era uma pessoa com gostos e teimas.

Vamos então a mais um pensamento positivo. Gostaria de me debruçar sobre o cinema, mas a verdade é que não tenho consumido nada ao longo deste ano e meio. Ando a perder óptimos filmes e não tenho conseguido acompanhar as últimas tendências por que não tenho tempo de sobre. O outro pensamento positivo de hoje foi de música, por isso hoje vou-me debruçar sobre uma pintura fantástico do Salvador Dali. Trata-se da crucificação de cristo visto de um outro ângulo que não aquele que associamos a este momento crucial da nossa história. Quando vi esta pintura pela primeira vez fiquei verdadeiramente impressionado. Não sou um grande admirador de Dali. As suas pinturas são muito elaboradas, pouco orgânicas e muito mentalistas. Não me são agradáveis os seus quadros, mas este é de facto extraordinário. Dá pelo nome de Cristo de S.João da Cruz e é verdadeiramente excepcional a perspectiva que ele usa da crucificação. Impressionante...

Acabei de enviar o meu primeiro conto para o Cine Clube de Terror de Lisboa. Este conto vai a concurso e o prémio para o vencedor é de 500€ mais a publicação numa antologia de contos de terror chancelada por este cine clube. Entusiasmei-me a escrever este conto. Não que goste muito do resultado final. Penso que ainda está um pouco ingénuo derivado da minha condição de estreante, mas a verdade é que me diverti bastante a escrevê-lo. O prazer de acabar algo é muito bom. Foi também um marco pois consegui, finalmente, estabelecer objectivos para a escrita e concluí-los, coisa muito rara, tirando os meus textos publicitários. Não tenho grande esperança em ganhar alguma coisa, mais foi bastante compensador a sensação de concorrer pela primeira vez a um concurso de escrita. Ganhei o apetite por estas coisas. Tentarei a partir de agora, sempre que tiver uma boa ideia, coloca-la no caderno para seguir linhas de força em futuros escritos.

O que é que nos leva a entrar nestas coisas? Vaidade pessoal ou esperança de encontrar um caminho alternativo para a nossa vida? Sei perfeitamente que o conto que escrevi não vale grande coisa, na génese, mas na verdade o meu único termo de comparação sãpo os grandes clássicos e os escritores com obra firmada. O meu desejo seria, naturalmente, começar logo assim, mas existe um percurso a percorrer que acredito que este tenha sido o meu primeiro passo. Escrever obriga a uma grande disciplina e um grande rigor nas ideias transpostas no papel. Arranjar um argumento consistente que conduza toda a história não é tarefa fácil e desde há uns anos a esta parte tenho tentado arranjar um argumento verdadeiramente estonteante, que arrase. alho numa coisa primordial. Estas tentativas resumem-se a pensamentos formulados no momento que de repente se esvaem assim, sem mais nem menos. ostaria de experimentar escrever em equipa. Hoje em dia isso está muito em voga e penso ser uma forma muito interessante de se trabalhar neste ramo. Encontrar o parceiro é que se torna penoso e arriscado. Deverei centrar as minhas atenções em alguém da minha esfera privada, de alguma forma intímo, ou pelo contrário, deverei lançar-me assim, sem mais nem menos, para a web e partilhar ideias, formas e conteúdos por forma a conseguir-mos encontrar uma história verdadeiramente interessante e que vale a pena ser contada?

Julgo que a segunda hipótese é muito mais interessante, no entanto trabalhosa e dispendiosa de tempo. Não tão dispendiosa como estas palavras possam sugerir, pois com alguma disciplina e rigor, julgo que 2 horas por dia dedicado a esta tarefa seriam suficientes. Fica lançada já aqui a primeira escada. Alguém tem uma história sufucientemente poderosa e interessante que mereça ou que justifique um esforço conjunto? Estou aqui para colaborar.

Estou a atravessar uma fase muito interessante da minha vida profissional. tenho várias propostas para lugares de grande relevo em grandes empresas. Estou a analisá-los 1 por 1 e em breve terei de decidir o meu rumo profissional. Desta forma como está não tem muito futuro. Agora sinto que em breve algo irá mudar radicalmente. De facto as redes de contactos funcionam bem e estou neste preciso momento a sentir estes tráfegos de influência. Parece que sou mais influente ou considerado do que julgava. Basta lançar o tapete. Estou contente e o meu ego também.

Estamos radiantes com a nossa nova casa. Ela é perfeita e os putos assim o demonstram pela sua incrível evolução desde que têm ar livre e espaço á sua disposição. estamos tão contentes que raramente saímos (e na verdade nem apetece muito).

Como pensamento positivo para hoje deixo a banda alemã Lali Puna. Têm um som extraordinário, com a dose certa de eletrónica, mas nunca fugindo ao formato de canções. É a banda sonora perfeita para esta nossa nova condição.

quinta-feira, maio 17, 2007


Estamos a viver uma crise social ou será que estamos numa espécie de auge social? Não me refiro aquela crise de que toda a gente fala. Essa crise, embora dolorosa para todos, não é mais do que uma adaptação à real condição e capacidade produtiva do nosso país. Somos um mercado pequeno, com pouca capacidade de consumo e com uma cultura virada para dentro, com medo e receio do exterior. Há uns anos atrás estávamos em plena folia, com ordenados injustificados e com aquela arrogância de um país muito rico, quando na verdade essa é uma situação insustentável para nós. Falo de uma crise de valores, de ideias. Estamos a atravessar uma espécie de revolução em que estamos a assistir a uma série de agilização de processos e simultaneamente estamos a viver um verdadeiro processo de globalização, com possibilidades ilimitadas de impactarmos outros mercados, outros consumidores. Com a web e com o processo de maturação da web, basta apenas muito querer e bastante imaginação para nos expandirmos e para explorar novas áreas e formas de negócios. É um maravilhoso novo mundo que temos pela frente - esta é a vertente positiva da coisa - o auge social. No entanto existe o outro lado. Tudo se agilizou, tudo é permitido e possível e portanto não temos de nos preocupar com avanços e revoluções. Vivemos oprimidos pela frase "já está tudo inventado".
Esta na verdade é uma questão muito delicada. Quais são os sintomas que nos indicam que tudo isto é positivo ou negativo? Paira um nuvem de optimismo para a nova geração com uma multiplicidade de novas portas abertas por onde poderão desenvolver os seus percursos profissionais. Paira também uma grande nuvem de pessimismo para todos aqueles que sempre trabalharam na dependência de outros e que cresceram a pensar que um emprego era para toda a vida. Falo dos mais velhos, um pouco mais velhos do que eu, que neste momento estão na casa dos 50 anos. Muitos têm sido os despedimentos em massa, com situações agonizantes para todos estes indivíduos. Esta é sem dúvida uma situação dramática e mais dramática se torna no nosso país agrilhoado ao passado, com poucos recursos e uma população pouco activa e imaginativa. As regras são dos outros e nós temos alguma dificuldade em segui-las e muitas vezes em compreendê-las.
O optimismo também aparece nas novas super empresas com os seus produtos já assentes numa outra lógica muito mais virada para o consumidor. Lembro-me, novamente do google. Por outro lado estas empresas que por enquanto nos parecem uma lufada de ar fresco, têm obviamente princípios um pouco fascistas com o domínio de todos os mercados onde actuam e com a paranóia de aniquilamento da concorrência que os circunda - veja-se o caso da microsoft, por exemplo. Esta época que atravessamos, assente no princípio (filosófico?) do "politicamente correcto" impede-nos de formular cenários perto de ditaduras e de absolutismos de acordo com os modelos clássicos. Mas elas existem e de uma forma muito escamoteada. Veja-se o que está a acontecer em Itália desde há uns anos a esta parte com o Berlusconi (esse sim um verdadeiro fascista). O magnata da comunicação social e do futebol, torna-se dirigente de um país que pertence ao G7, anuncia ventos de liberdade e de respeito a todos os Italianos e permite uma total liberdade de expressão nesse fascinante país. Mas por trás compra todos os meios de comunicação social supostamente independentes e privados de itália e domina todos os meios públicos derivado da sua condição. Este homem parece-me claramente um ditador moderno. A acompanhar este novo desenvolvimento, esta primavera social estão estas novas formas de domínio, de poder que ainda estão muito bem disfarçadas e que nós ainda as levamos quase a brincar. Vamos ver como isto evoluirá, como se apresentará aos nossos olhos dentro de alguns anos (menos do que nós pensamos).

Uma coisa é certa. A lógica do dinheiro ganhou. Os valores subjugaram-se ao dinheiro e ao consumo. Resta descobrir no meio desta nova selva como nos posicionar para termos uma vida tranquila e ao abrigo destes ursos ferozes que agora saltaram para a ribalta e que estão a desenhar e a aplicar as novas regras sociais.

Apesar de tudo estou confiante e optimista. Mais oportunidades, mais possibilidades encontram-se ao nosso dispôr.

Como pensamento positivo para hoje deixo um espantoso livro que estou a ler. Trata-se de um ensaio sobre o século XX, onde o autor - Niall Fergunson intenta numa abordagem radicalmente diferente daquela a que estamos habituados a encarar os factos históricos do século passado. A exemplo disso é a teoria que ele sustenta no livro de que a primeira guerra mundial aconteceu por acaso e não como consequência do estado económico do mundo. Toda a análise que ele faz é bastante pertinente e obriga-nos a levantar muitas questões sobre tudo o que aprendemos até agora sobre aquele século. O livro é a Guerra do Mundo e é a todos os níveis um livro espantoso.

segunda-feira, maio 14, 2007


Qual é a relevância das coisas? Como é que a relevância é quantificada, medida? Como é definida? A relevância passou a ser um termo muito utilizado na linguagem profissional. Subitamente, de um dia para o outro, passamos a pensar em coisas relevantes para os consumidores, a relevância de um produto para os clientes, etc. Ao longo desta última década, a moda de pegar em palavras para traçar um determinado rumo de uma empresa, de uma actividade tornou-se forte, passou a fazer parte das preocupações diárias do nosso dia-a-dia profissional. Além da relevância, estou-me a lembrar por exemplo da assertividade, da flexisegurança, que é mais do que uma palavra, da palavra sexy como adjectivo, enfim e muitas outras foram surgindo à nossa frente como prioridades, como caminhos a percorrer para atingir um nirvana profissional. Pessoalmente esta mania das palavras-chave sempre me irritou. Sempre declinei esta forma de pensar e de agir, pois parece-me artificial e pouco fundamentado. É uma forma de empurrar tudo o que está mal para debaixo do tapete e agarrar em novos lugares-comuns para justificar novos rumos e esquecer a porcaria que ficou para trás.

Mas a palavra relevância ficou-me na cabeça. Primeiro pela razão de ela começar a ser utilizada como âncora para os profissionais da comunicação e marketing. Estranho surgir assim quando deveria ser uma prioridades na criação de qualquer coisa. Em segundo lugar, porque quando vamos mesmo ao fundo das coisas para tentar encontrar a verdadeira relevância contida nelas, deparamo-nos com muitas surpresas desagradáveis. Há muita coisa com pouca ou nenhuma relevância à nossa volta e por estranho que pareça, mesmo assim sem essa relevância patente, por vezes elas funcionam e as pessoas preocupam-se e de alguma forma invertem a ordem natural e passam a torná-las, de alguma forma relevantes.

Desta forma chegamos a uma espécie de paradigma: A relevância deve ser estanque e pensada de antemão, ou, pelo contrário, ela é móvel, elástica e muitas vezes de geração espontânea?

Parece-me ser um pouco das 2 coisas. Pensar em algo sem pensar na sua relevância é uma atitude que me parece pouco inteligente. Tem de haver uma noção prévia da funcionalidade de uma criação e da relevância da sua impactação, do seu uso, em todos aqueles que vão beneficiar dela. Mesmo que seja de uma forma abstracta. Penso na arte. A relevância de uma obra de arte tem de ser importante, mesmo que no início seja incompreensível, mas que mais tarde irá contribuir para o ressurgimento e mesmo surgimento de uma série de eventos e tendências à volta dela. Por outro lado, a relevância tem de ser pensada de uma forma humilde, ou seja, tem de estar preparada para perder ou para ganhar outros sentidos e outras orientações ao longo do tempo de vida de uma determinada criação. A relevância é uma espécie de cozinhado que vai ganhando forma ao longo da sua preparação. Se se puser o sal errado, ou a especiaria incorrecta, a sua relevância vai ser diferente do que seria de esperar.

O fascinante da relevância é que ela é incontrolável. Esse cozinhado poderá ficar horrível e intragável e por isso ganhar uma grande relevância junto dos pobres coitados para quem foi preparado. O facto de estar horrível torna-se relevante no sentido de nunca mais comerem ali ou de perceberem imediatamente que aqueles ingredientes nunca poderão combinar. A relevância a extrair daquele momento tem muito mais importância do que se o cozinhado estivesse... digamos... normal. Seria mais uma noite, ou mais uma refeição que tinha passado. Tornar as coisas relevantes têm uma importância capital na nossa vida, mas não existe uma fórmula. A relevância é incontrolável e é moldável uma situação que comb ina uma data de elementos que nos escapam. A própria interpretação da relevância está dependente de cada um, que por sua vez combina a educação, o passado e tudo o que está intrínseco a um indivíduo naquele preciso momento.

Quando pensamos em relevância temos de pensá-la de uma forma muito básica. Temos de fazer tábula rasa dos nossos interesses e conhecimentos na altura e pensá-la de uma forma muito rudimentar para fazer valer as nossas criações. Esta é a forma mais aproximada que temos para controlar a relevância. Depois ela vai ganhando forma, vai-se transformando e caberá tentar antecipá-la e adaptar, corrigir, para que se possa manter essa relevância junto do maior número de pessoas possíveis.

Como pensamento positivo para hoje deixo uma ferramenta com uma relevância enorme para milhões de pessoas. O motor de busca GOOGLE, é de facto uma história de sucesso, cuja relevância `para o utilizador foi sempre uma prioridade, desprezando a relevância da comercialização que sempre guiou os casos de sucesso do nosso tempo. Teimaram numa direcção e conseguiram. Mas só isso não bastou. Continuam a criar funcionalidades à volta do google com uma eficácia brutal e muito bem feitos. É de facto uma ferramenta extraordinária e fruto de um tipo de posicionamento e de abordagem aos consumidores que considero de adulta, de sinónimo dos novos tempos que aí vêm. Estão ricos e nós os utlizadores estamos muito mais ricos também. O google é muito relevante!

quinta-feira, maio 10, 2007


O verão chegou em força e com ele chegou a nossa latinidade, a nossa força enquanto povo do sul da europa em que tanto batem ao longo dos outonos e dos invernos. É neste momento, neste precso momento, que necessitamos de fazer uma introspecção e perceber finalmente que o orgulho em pertencer a esta faixa territorial europeia é imenso. Chega de críticas veladas e indirectas sujas ao nosso modo de vida, à nossa forma de estar, à nossa maneira de fazer e encarar as coisas. As críticas caem todas por terra quando damos de caras com a nossa luz, as nossas praias, o nosso mar. Vivemos de uma forma diferente daquilo que se convencionou como o modo de vida correcto e eficaz. A nossa eficácia revela-se noutras coisas como por exemplo na simplicidade da nossa indumentária para ir à praia, no arrastar do dia até ao último momento em que é possível estar na praia, na forma como sorrimos uns para os outros quando estamos cercados de areia e com um calor abrasador a retalhar a nossa pele e a escurecê-la com um tom saudável. É nesta altura que os supostos detentores da razão descem dos seus cinzentos países e vêm conviver com a nossa maior preciosidade. Dizem que nos invejam pelo tempo que temos e pelas praias que estão à nossa disposição, e em certa medida até acredito nisso, mas o problema é que o dizem com o sentimento de superioridade... qualquer coisa como: "lá no mundo a sério nós só trabalhamos enquanto aqui vocês têm muito mais coisas para fazer". Dizem isto de uma forma que me irrita, quase a desculpar o nosso gosto pelo lazer. Vão todos à merda com essas considerações. Nós aqui não temos as praias e o sol que eles não têm. Tudo isso faz parte de nós mesmos. Não é uma questão de sorte, enganam-se. As coisas são mesmo assim. O nosso modo de vida está condicionado por estas coisas e elas sãom intrínsecas à nossa personalidade, à nossa identidade enquanto portugueses. Eles são uma orquestra, em que tudo sai bem, na perfeição sem lugar à criatividade e a qualquer arrojo individual. Nós somos uma banda de jazz no meio de uma jam session. O problema é que estes povos querem arranjar uma pauta para uma jam session, quando isso contradiz a própria natureza da jam session. Não existem pautas nem sequer queremos que elas existam. É mesmo assim.

Naturalmente que nem tudo são rosas. Sofremos também com tudo isto, principalmente nas estações frias. E pagamos por esse caos quase organizado ou essa organização assente no caos. Mas somos assim mesmo. Não quero desculpar governos com esta posição. Os nossos governos são maus governos, imaturos e oportunistas. O que eu pretendo com isto é afirmar a minha identidade enquanto povo único, enquanto português. E essa afirmação passa por um sentimento de orgulho. Eu senti orgulho em ser português e fico muito contente pelos meus filhos terem nascido em portugal e fazerem parte da comunidade lisboeta, de fazerem parte de um puzzle de uma das cidades mais bonitas de que há memória. É estúpido aplicarem modelos ao nosso modo de vida, inspirados nos finlandeses ou suecos. Bolas, basta olharem para eles um vez para se entender logo que nada têm a ver conosco, mesmo fisicamente. Vamos criar um modelo português, assente na seriedade, numa organização muito própria e numa eficácia adaptada às nossas reais necessidades, que incluem praia, sol, dolce fare niente, fado, comida, vinho, enfim tudo o que nos define como portugueses. Mas não podemos cair no erro de nos isolar. Temos de ter esta atitude contanto com todo o processo de globalização que estamos a atravessar. Tenho a certeza que a solução irá ser original, espantosa e verdadeiramente eficaz.

Chegou o nosso momento. A nossa identidade é tão importante como qualquer outra. recisamos de optimismo e ao contrário dos outros povos extremamente organizados, o sol e aluz fazem com que o nosso optimismo esteja embebido de boa disposição, coisa rara e muito complicada - mas possível.

Pensamento positivo - Praias Portuguesas - As melhores praias do mundo!

sexta-feira, maio 04, 2007




Já estamos na casa nova. Já nos mudamos finalmente e a nossa qualidade de vida aumentou consideravelmente. Muito mesmo. Agora já nos apetece ficar em casa e não temos de ouvir o ensurdecedor barulho da rua em baixo com a amplificação dos sons dos carros a passarem. Agora existe um silêncio de veludo e uma vista absurda, esmagadora, linda como poucos locais podem proporcionar. Tenho sorte, temos muita sorte. O que me agrada mais é ter a possibilidade de deixar como recordação aos meus filhos uma espécie de sítio mágico. Aquela varanda, tenho a certeza, irá ficar para sempre gravada na memória dos meus filhos. Fará parte da sua história e muito mais tarde irão apreciar devidamente o nosso esforço.


A mudança levou 12 horas. Foi bastante cansativa pois na verdade foram 2 casas a mudarem-se para 1. Foram as minhas coisas e as coisas da Paula que ficaram em repouso cerca de 10 anos naquela casa de Santa Apolónia. Já desfizemos muita coisa mas ainda falta bastante. Espero concluir tudo este fim de semana.


Os putos ao início não reagiram muito bem. Aquela não era a casa deles. Era um novo espaço, muito maior e com muitas mais possibilidades, mas não era a casa deles. Quando desaparecíamos da vista deles, destavam a chorar. Agora já se habituaram e agora já fizeram daquela casa a sua casa.


Como pensamento positivo para hoje, deixo a minha nova vista. A foto é do miradouro de Nossa Senhora do Monte que é um pouco ao lado e um pouco mais alto, mas a vista é muito parecida.

sexta-feira, abril 20, 2007


Como é que se usa um telemóvel? Ou um telefone, para ser o mais genérico possível? O uso que eu dou ao telemóvel não é muito saudável. Supostamente deveria ser o uso correcto, pois mal toca, vou em sua busca, independentemente do que esteja a fazer. Será este o uso correcto? Não, definitivamente não é. O telefone é um acessório do nosso dia-a-dia. Existe para facilitar algumas coisas, não para condicionar os nossos dias. A Paula sabe utilizar o seu telemóvel. Atende apenas quando está disponível para isso e por isso irrita muita gente inclusivé a mim. Mas na verdade ela está coberta de razão. Porque é que se deve atender sempre um telemóvel, mesmo que não nos apeteça? E porque é que as pessoas ficam chateadas pela sua chamada não ter sido atendida? Estamos de tal forma condicionados por estes espartilhos de hábitos sociais que muitas vezes quando toca o telefone e não nos apetece atender, forçamo-nos a nós próprios a perder tempo de vida com aquela chamada, não porque necessitamos, mas com o medo que a outra pessoa fique ofendida. Eu automaticamente penso assim e muitas vezes dou por mim a julgar a paula, incorrectamente, pelas suas opções de liberdade quanto ao telemóvel. Na verdade nem sequer são opções de liberdade... nem sequer é uma opção, é apenas a forma como encaramos e queremos encarar a nossa forma de viver, o ritmo que queremos impor ao nosso modus-vivendi, e o ritmo da paula é que está correcto. A tirania do telemóvel está a chegar ao fim. Embora importante para a nossa vida, ele não deverá ser essencial. Não é fácil acabar com esta tirania, mas temos de fazer um esforço para que a nossa vida se torne um pouco melhor, um pouco menos stressada.

O João Pedro anunciou ontem aos pais que está à espera de um filho. Mais um primo para o Afonso e a Carolina. deverá nascer em Novembro. Estamos muito contentes.

Despedimos o carpinteiro. Ainda falta colocar as portas, ferragens e acabar uma parte do deck exterior. Acabou-se a paciência. Foi posto na rua e não vai ver nem sequer mais um tostão. Apesar de tudo ficou-nos barato os seus serviços, mas se formos ver os danos de tempo e paciência que este sujeito nos provocou saímos claramente a perder. Será que não existem empreteiros e homens das obras sérios? Tem de existir.

A cozinha ficou pronta no início da semana. Lindissíma, branca co brilho tipo branco iPod e com todas as funcionalidades pensadas ao pormenor pela paula. Por exemplo, a tábua de cortar pão está inserida dentro de uma gaveta com um recipiente próprio para isso. Acaba-se de cortar o pão fecha-se a gaveta e puff. Nada de migalhas, nem coisa espalhadas. São estes tipos de detalhes de ergonomia que a paula é fantástica a pensar.

Já temos o nosso novo iPod de 80GB. Estou em fase de passar toda a nossa música do anterior para o novo. Menos versátil em termos destes procedimentos, infinitamente mais bonito e poderoso que o anterior da creative.

Como pensamento positivo para hoje deixo o iPod. Ainda estou a aprender a trabalhar com ele, mas parece-me estupendo e fora de série. E impressionamente a capacidade destas novas geringonças que nos permitem ter uma discoteca de cerca de 1500 albúns num dispositivo daquele tamanho. Este aparelho está a mudar a face da indústria musical. Não são só as editoras e as lojas de música que estão ameaçadas. São também os fabricantes de CD's. Isto está a levar uma grande volta. Sem dúvida, juntamente com a nespresso, um dos principais ícones desta primeira década do século XXI.

quarta-feira, abril 18, 2007


Acabei de escrever o meu primeiro conto. Foi um desafio lançado pelo CineClube de Terror de Lisboa para escrever um conto de terror.

Ainda não está perfeito mas foi o meu primeiro ensaio. A trama não está muito bem sacada e vive de alguns lugares comuns que me irritam.

Fica aqui para a posteridade e sujeito à apreciação de quem quiser. Comentários e sugestões são muito bem vindos (Edgar Pó foi o pseudónimo que escolhi, fazendo naturalmente um tributo ao grande mestre destas andanças - Edgar Alan Poe).


Type O Negative
por EDGAR PÓ


O meu nome é José Carlos Teia e eu estou... aterrorizado!
Já lá vão 47 dias desde que estou encerrado neste quarto e a única forma que eu tenho de comunicar com o mundo exterior é através desta via. Todas as outras vias de comunicação foram cortadas e como companhia restam-me alguns enlatados, um computador antiquado, um poster de parede dos Type-O- Negative e uma cadeira barcelona, que não me serve de nada, pois não tenho mesa para colocar o computador.
Mas vamos começar desde o início, para que compreenda a minha agonia e para que eu lhe dê alguns argumentos que sustentem a sua decisão de ajudar, ou se for tarde de mais, de revelar ao mundo a minha infeliz história para que ela não se repita com mais ninguém, pois nenhum ser humano deve ser sujeito a este tipo de pressão, a esta agonia que se apoderou de mim e que me drenou de todas as emoções, de toda a lógica.
Tudo começou à cerca de dois meses. Estava uma manhã lindíssima, cheia de sol e depois de tomar o pequeno-almoço com a minha mulher e os meus dois filhos gémeos, dirigi-me para a paragem de autocarro do costume, para apanhar o autocarro nº 74 em direcção à estação de comboios. Entre apanhar o comboio e o meu local de trabalho medeiam cerca de 35 minutos que costumo investir na leitura, nunca perdendo de vista a paisagem que desfila na janela e as pessoas que partilham comigo estes espaços móveis.
Esta é a minha rotina habitual que faço desde há mais de 10 anos para chegar ao meu emprego. É uma rotina que prezo e que de alguma forma me relaxa antes de me dedicar às minhas obrigações profissionais e familiares. É aquele momento em que não tenho necessidade de encarnar um papel ou de fazer as coisas por forma a agradar a quem está à minha volta. Todos os dias encontro e reencontro pessoas que desfilam à minha frente de uma forma descomprometida, sem preocupações além de apanhar os transportes às horas certas, para chegar a tempo aos seus empregos e então assumir as suas personagens construídas ao longo de anos que lhes garantem um determinado espaço nas suas realidades. Durante estes percursos estas pessoas, e eu próprio, não existimos. Estamos em transicção para as nossas vidas que começam realmente dentro de momentos. É uma espécie de limbo, de hall de entrada para um palco à nossa medida.
Com o passar dos tempos, aprendi a gostar destes momentos. Tenho uma profissão moderna, com relativo sucesso e numa empresa jovem, muito dinâmica e sem grandes preocupações de horários ou formalidades, por isso, consigo desfrutar destes momentos de uma forma muito própria, muito minha.
Nessa manhã, reparei no condutor do autocarro. Era um jovem com um olhar vivo e uma expressão simpática. Tinha uma postura orgulhosa como que a cortar com todos os estereótipos construídos à volta desta profissão. Era bonito, mas não o suficiente para se reparar, o que fazia dele uma pessoa agradável. Não consegui deixar de notar nele por estas razões e pelo facto de a sua cara não me ser estranha. Na altura eram pensamentos momentâneos que se apagam a partir do momento em que atingia a parte de trás do autocarro para conseguir um lugar vago.
Até aqui, nada de estranho se passou e nenhuma razão existe para que fique aponquentado, mas por favor, continue a ler. Não pare de ler, pois preciso desesperadamente da sua ajuda...
Quando entrei no comboio é que as coisas começaram a ganhar uma dimensão estranha. Sentei-me, como de costume, na segunda carruagem, no sentido inverso da locomoção do comboio e peguei no meu livro para devorar mais um capítulo. Após o comboio ter iniciado a sua marcha, 2 minutos depois, veio o revisor verificar o meu título de transporte. Já o tinha a postos por forma a ser revelado sem tirar os olhos do meu livro, mas naquela manhã, olhei nos olhos do revisor e para meu espanto a sua cara pareceu-me idêntica à do condutor do autocarro. O mesmo olhar, a mesma postura, o mesmo orgulho. Dei um salto no assento como que assustado, razão para que o revisor fizesse precisamente o mesmo, assustado com a minha reacção. Fiquei paralisado. Sem saber o que fazer. Ele perguntou-me – “o seu bilhete por favor” – ao que imediatamente lhe revelei o meu passe de uma forma mecânica, mas sempre com os olhos colocados nos olhos dele. Verificou o passe e de seguida perguntou-me, tal era a minha expressão – “Está tudo bem? Passa-se alguma coisa consigo?”
A voz custou-me a sair e quando se materializou, retorqui-lhe – “A sua cara não me é nada estranha. Peço-lhe desculpa pela minha reacção, mas deu-me a sensação que o tinha visto agora mesmo a conduzir um autocarro”.
As suas sobrancelhas franziram-se e respondeu-me – “É possível que me tenha visto no autocarro, mas certamente que não ao volante e isso foi cerca das 7 da manhã”. Sorriu e eu, de imediato, pedi desculpa pela confusão antes de ele seguir caminho para o próximo passageiro.
Continuei preplexo, convencido de que me tinha enganado e inclusivé esbocei um sorriso por forma a afastar esta nuvem de dúvida, sorriso esse que se esbateu no momento em que olhei para o meu passe e constatei que estava escrita uma mensagem num vermelho tipo sangue com os números 7 e 4 desenhados de uma maneira tosca. Ainda olhei em direcção do revisor que no momento atravessava de uma carruagem para outra através da porta que as separa. Reparei que esboçava um sorriso enquanto atravessava a porta.
O meu primeiro impulso foi levantar-me a correr atrás dele, mas depois o medo apoderou-se de mim e transformou as minhas pernas em dois barrotes de chumbo impossíveis de serem movidas. Tentei acalmar-me e convercer-me de que nada disto era real, mas ao olhar de novo para o passe e constatar nos dois números desenhados, inundou-me um sentimento de terror que me tem perseguido até a este momento em que lhe escrevo esta mensagem.
O dia passou-se normalmente sem mais acontecimentos dignos de registo, mas eu estava esfrangalhado. Não consegui pensar em mais nada. E mais catastrófico se tornou quando tomei consciência de que os números que estavam no passe correspondiam aos números do autocarro que eu normalmente apanhava – o nº 74. Seria uma mensagem subliminar para eu apanhar o autocarro na volta, ou uma simples coincidência? Que haveria eu de pensar desta ocorrência? Estaria a exagerar? Estaria a ficar louco? Os acontecimentos seguintes iriam revelar e clarificar toda esta confusão que me levou a este estado miserável.
Tentei concentrar-me no meu trabalho, mas não consegui. Não me saía da cabeça o momento de sair do trabalho, meter-me no comboio, sair na estação e apanhar aquele misterioso autocarro. Mas o que mais me irritava era a sensação que se apoderava de mim, de que tudo isto era um engano, uma coincidência que eu estava a transformá-la em algo extraordinário, algo que apenas acontece nos filmes e nas histórias de terror e mistério. Poderia ser uma defesa para a minha rotina diária, uma necessidade de criar alternativas ao “ram-ram” do meu quotidiano. Mas esse cenário, a acontecer, tomava a forma de um cenário doentio, pois este bocado da minha vida, esta transicção entre vidas, era um momento que eu prezava e que ansiava todos os dias da semana. Bom, por vezes, fazemos coisas comandadas pelo nosso subconsciente que são contrárias à nossa vontade, mas como irá ver mais à frente, tal não era o caso. Havia, de facto, razões para me preocupar e agora estou aqui, acossado e aterrorizado, muito por culpa de não ter tomado atenção a estes sinais.
Bom, mas voltando ao que interessa. O dia acabou e ao longo dele consegui dissipar muitos destes anseios, destas premonições geradas por aquela misteriosa personagem, de tal forma, que por volta das sete horas da tarde, hora a que habitualmente saio da empresa, aquele momento de terror foi adquirindo contornos quase cómicos e o que de manhã tinha sido um evento estranho, ganhou um estatuto de coincidência cómica no fim da tarde. Mas havia algo que me incomodava, algo que carecia de uma explicação lógica e que me deixava incómodo, irrequieto e desconfortável, muito desconfortável.
A caminho da estação, passei pelo café onde habitualmente almoço e em vez de seguir caminho, parei para tomar um café e comer uma chamuça, coisa que nunca faço. Deverá compreender que sou um homem de rotinas e que para mim elas são, na verdade, o sal da minha vida. Gosto de roteiros diários traçados ao milímetro e de os cumprir escrupulosamente, mas de uma forma natural, não compulsiva, por isso parar, ao fim da tarde, no café para beber um café, foi um acto de absoluta originalidade para mim. Mas não foi inocente ou impulsivo. Foi, na verdade, um acto de quase cobardia. Eu estava com medo de encontrar o revisor-condutor de autocarro novamente, por isso tinha que quebrar a minha rotina por forma a não me cruzar com ele. Na altura estes pensamentos não eram claros para mim. A vontade de beber um café e comer uma chamuça pareciam-me reais e genuínos, mas lá no fundo eu sabia que tinha de reagir e evitar um encontro como aquele encontro matinal durante o qual o meu passe ficou manchado com o número 74. A propósito, o meu passe continuava a ostentar esse número. Não o consegui apagar, não porque tentasse, mas por receio de que algo acontecesse, voltei a meter o passe no bolso e não pensei mais nisso. Um misto de medo e curiosidade assaltava-me e quis manter o número para que todos os meus sentidos tivessem alerta aquando do momento da volta, este preciso momento que agora lhe estou a contar.
Sai do café sem pressa nenhuma e dirigi-me para a estação dos comboios. Até lá chegar são cerca de 10 minutos a andar e desta vez fiz este trajecto na maior das calmas, observando todos os pormenores que fazem parte daquele caminho que faço pelo menos 2 vezes por dia ao longo dos últimos dez anos. Consegui chegar à estação precisamente 3 comboios a seguir ao que normalmente apanho e quando avistei o comboio ao funda linha, senti um pequenos aperto no coração. Será que ia cruzar-me com o sujeito?
O comboio deu entrada na plataforma e as portas escancaram-se à minha frrente à espera de serem abertas. Respirei fundo e sorri para mim mesmo. As portas abriram e entrei de olhos fechados dentro da carruagem. Procurei um lugar vazio e reparei que todos os lugares estavam tomados, de forma que tive por optar pelos bancos junto à porta da entrada da carruagem – refira-se que apesar de parecer uma situação normal, nunca me tinha ocorrido a esta hora, uma vez que eu faço o trânsito ao contrário. Mas como tinha apanhado um comboio a uma hora que habitualmente não apanho, na altura encarei como normal.
A viagem decorreu normalmente, sem qualquer incidente. Ninguém se manifestou e inclusivé não apareceu nenhum revisor a verficar os títulos de transporte. Foi simultaneamente um alívio, mas com uma pontinha de frustração. Há qualquer coisa dentro de nós que numa situação de ansiedade dispara um botão de alarme para que as coisas se resolvam rapidamente mesmo que implique algum risco. Era disso que eu estava à espera. De encontrar uma solução para o estranho acontecimento matinal. Mas tal não aconteceu. Estavamos a chegar à estação terminal e nada. Mas nada mesmo...
Agora impunha-se a confrontação com uma nova situação. Apanhar o 74 em direcção a casa. Não esqueçamos que o condutor do autocarro e o revisor do comboio tinham semelhanças evidentes que me levaram a pensar que seriam a mesma pessoa, e também a marca deixada pelo revisor no meu passe era o número do autocarro que eu normalmente costumava apanhar. O meu primeiro impulso foi correr para a paragem do 74 e apanha-lo para chegar rápido a casa e se possível encontrar o mesmo condutor e tirar tudo a limpo. Na verdade já estava num estado de nervos com uma pitada de euforia à mistura que resultava numa situação de algum descontrolo emocional. Queria resolver isto. Queria chegar a casa com as minhas dúvidas dissipadas e contar o que se tinha passado a minha mulher e aos meus filhos. Queria acabar com isto de uma vez por todas, tal era o cansaço que se tinha apoderado da minha mente, resultante de um dia inteiro a pensar naquele breve encontro no comboio. Sabia lá eu no que iria dar. Pobre mim e já agora pobre de si que está a ler esta mensagem , pois caso opte por fazer alguma coisa irá meter-se na boca do lobo, ou se pelo contrário, não fizer nada vai viver o resto da vida na dúvida e com a consciência abalada por tudo aquilo que irá ler nestas linhas.
Decidi não apanhar o 74. Optei por outra paragem de autocarro, bem longe daquela, aliás, que me deixaria relativamente perto de casa, apesar de ter de andar cerca de 10 minutos a pé até atingir o meu destino.
Apanhei o 110, no lado contrário da praça de autocarros que fazia o trajecto inverso ao 74. Levaria cerca de 50 minutos nesta viagem ao contrário dos habituais 10 a 15 minutos que gastava no 74. Dissipei todas as minhas dúvidas, ou melhor, arranjei todas as desculpas possíveis para justificar a minha mudança de planos. Como já lhe referi anteriormente, as rotinas, para mim, são essenciais. São os meus pequenos vícios a que recorro para fazer dos meus dias, momentos interessantes. De tal forma isto cortava com a minha rotina que tinha de inventar todas as desculpas para justificar esta mudança de planos.
E assim foi... Apanhei o 110 para retornar a casa pelo lado errado da cidade. O autocarro, tinha cerca de 4 pessoas e com a confusão entretanto gerada dentro da minha cabeça, não tomei atenção ao condutor. E porque haveria de tomar? Era um autocarro diferente que estava a apanhar. Mais um erro que cometi ao entrar dentro daquele malfadado autocarro. Pobre de mim...
Esperei cerca de 3 minutos antes do autocarro iniciar a sua marcha, sentado no segundo banco do lado esquerdo da parte de trás do autocarro. À minha frente estava uma senhora a mandar mensagens do telemóvel e atrás de mim 2 crianças acompanhadas pelo pai observavam o terminal de autocarros com alguma supresa e entusiasmo à mistura. Deveriam ser de fora da cidade.
O autocarro iniciou a sua marcha e já eu estava agarrado ao meu livro. Subitamente, lembrei-me de que deveria tentar olhar para o condutor para ver se desta vez não se assemelhava ao meu suposto perseguidor matinal. E assim o tentei fazer. Estiquei o meu pescoço para ver se o conseguia vislumbrar através do espelho retrovisor e aí nesse momento, precisamente nesse momento, começou o meu calvário que me levou a este estado de absoluta decadência, medo... de absoluto terror...
Os destinos do 110 estavam entregues, precisamente ao revisor/condutor de autocarro que apanhei no meu trajecto matinal. Quis gritar, mas não me saiu qualquer voz pela boca e em troca recebi uma gutural gargalhada emitida pelo condutor. E o mais estranho era que ele nem sequer abriu a boca. A gargalhada surgiu na minha cabeça, assim, sem mais nem menos. Fiquei numa espécie de estado de choque incapaz de pensar ou agir. O autocarro entretanto enveredava por caminhos que não conseguia identificar e a paisagem através da janela deixou de ser nítida para se transformar numa espécie de visão da paisagem a derreter-se lentamente em tons de castanho e rosas que se misturavam numa espécie de morphing diabólico... Estava confuso, estava em pânico e totalmente paralisado, sem capacidade de raciocinar ou sequer de encenar algum movimento, alguma reacção naquele cenário Dantesco. Pensei que tinha desmaiado, tal era a violência daquela constatação, mas estava bem acordado, mas incapaz de ver, sentir ou reagir. Tudo estava em absoluta comoção naquele autocarro, naquela horrível nave que agora começava a atingir velocidades assustadoras com o vidro da frente a embater em formas horrososas que pareciam que ganhavam vida quando se esmagavam mesmo à nossa frente. Começa a entender o pânico pelo qual passei? Então tenha mais um pouco de paciência pois ainda estamos no início.
A voz gutural do revisor/condutor de autocarros estava dentro da minha cabeça, ecoando com um volume cada vez alto, mais infernal, no entanto traduzida apenas em sons insuficientes para fazerem qualquer sentido. Nesta altura reparei que a sua voz, desde a gargalhada inicial nunca tinha parado dentro da minha cabeça, no entanto com um volume baixo. Agora que o volume começava a aumentar é que dei pela sua presença, desde que constatei o terror em que estava envolvido. De tal forma atingiu um volume tão alto que tive que colocar as mãos na minha cabeça, a fazer pressão nas têmporas ao mesmo tempo que tapava os ouvidos. Solução insuficiente, pois ela estava dentro da minha cabeça. Gritei de tão insuportável que estava e virei-me para trás para acabar com aquele sofrimento atroz. Nesse preciso momento, a voz sessou e consegui abrir os olhos e de alguma forma recompôr-me. Pelas janelas já consegui descortinar uma paisagem, que embora desconhecida, tinha já um toque de normalidade o que me trouxe algum alívio. Nas parte de trás do autocarro continuavam as quatro pessoas que tinham iniciado a viagem comigo. Estavam a rir-se de uma forma estridente e pouco natural. Apontavam na minha direcção e os seus rostos estavam como que desfocados, difíceis de serem identificados. Percebi que durante o meu momento incial de terror se tinham juntado todos a um canto como que a assistirem à minha reacção e agora pareciam uns comentadores toscos que se banqueteavam com o que tinham visto.
No minha cabeça, a voz tinha desaparecido por completo e, embora com algum movimento oriundo das janelas, o autocarro já se locomovia de uma forma normal. Avancei em direcção dos meus espectadores como que a pedir ajuda, como que a pedir-lhes que eles tivessem sentido o mesmo que tinha acabado de sentir e assim pudesse encontrar algum consolo naquele cenário. Tem de entender que eu estava desesperado, muito assustado e embora seria evidente que algo estava muito errado ali e nunca encontraria consolo naqueles seres, a minha reacção de ir ao encontro deles foi de desespero, mesmo sabendo que eles nunca me ajudariam.
Fui cabaleando em direcção aquelas personagens e uma das crianças saltou do seu banco e colocou-se à minha frente sempre com um sorriso. Parei e aquela distância consegui reconhecer o seu rosto e naquele momento solto um grito chamando o nome de um dos filhos. Não foi um grito à toa, pois à minha frente estava a cara e a cabeça de um dos meus filhos gémeos, embora o seu corpo não correspondesse à realidade. Era um corpo pequeno, exactamente do mesmo tamanho do meu filho, mas as suas proporções estavam erradas. Os braços eram de um homem exremamente forte, com pêlos e veias salientes, enquanto as suas pernas estavam cobertas por um manto gasto e velho que deixava entrever o brilho do metal. Eram próteses não acabadas, apenas com o metal à mostra e cobertas de manchas de sangue que jorava da parte de cima onde acabava a carne.
Gritei pelo nome dele, não com uma intenção de alívio, mas de puro horror ao constatar o estado do meu filho. O meu grito despontou ainda mais gargalhadas nos outros passageiros que agora, de uma forma instantânea, ostentavam os seus rostos perfeitamente visíveis e identificáveis. Como deve estar a prever, eram os rostos do meu outro filho, da minha mulher e do maldito revisor/condutor de autocarro que a abraçava com um braço e com o outro afagava-lhe o seio. Riam altíssimo, desta vez com as bocas a corresponderem aos sons que pairavam no ar. No momento não conseguia distinguir se eram sons verdadeiros ou se ecoavam na minha cabeça tal como as anteriores gargalhadas do revisor/condutor.
Desmaei, penso eu, pois ainda hoje não consigo estabelecer uma linha de tempo coerente que batesse certo com tudo o que estava a passar no autocarro nº74.
Tudo o que eu estava a assistir era grotesco e de uma violência para a qual eu não estava preparado. Talvez até nem tenha desmaiado. Talvez tenha entrado numa espécie de black-out para reunir forças, por forma a encarar o que ainda estava para vir. Como lhe digo, reinava a confusão na minha cabeça e ainda hoje reina alguma, com alguns detalhes imprecisos, mas limados de uma forma a tornar perceptível a si, que está a ler esta infortunada aventura.
Acordei com frio, mas desta vez rodeado de escuridão num espaço muito amplo. Estava nu, agrilhoado a uma parede húmida. Estive assim cerca de duas horas, sem qualquer vislumbre do que me rodeava. Com os meus gritos percebi que estava num espaço amplo e estava tão bem preso à parede que não conseguia mover-me de forma alguma. Estava aterrorizado no início, mas ao fim de meia hora passei do estado de terror a uma espécie de resignação. Tinha de esperar pelo que me iria acontecer. Os gritos não estavam a sortir efeito e o frio que estava a sentir no meu corpo começou a substituir o medo que atravessava a minha mente. Estava desesperado, sem forças e rendido aquela miserável condição de vítima. Estava prestes a entrar em colapso quando subitamente senti um toque no meu peito. Ao mesmo tempo abriram-se as luzes daquele imenso espaço e à minha frente estava o revisor/condutor de autocarro empunhando o seu sorriso. As vozes voltaram à minha cabeça, mas com murmúrios impreceptíveis. Perguntei-lhe o que queria de mim e como resposta obtive mais barulho na minha cabeça e a sua mão a enterrar-se no meu peito a ponto de me extrair todo o ar. Quase que desmaei novamente. Retirou a sua mão e os murmúrios que ecoavam na minha cabeça começaram a fazer sentido. Dizia-me que eu era um ser humano desprezível e que não merecia estar vivo. Que tudo o que tocava ou passava-me pelas mãos tornava-se obsoleto sem interesse e que por isso deveria morrer, deveria deixar de existir e deixar espaço a outros seres humanos mais válidos. Disse-me ainda muito mais coisas à volta disto, mas que não me consigo lembrar bem, pois várias vozes começaram a falar em simultâneo na minha cabeça. Foi uma lenga-lenga de cerca de 20 minutos sempre a deitar-me abaixo e a reforçar a minha condição de ser humano desprezível e sem utilidade. Desisti de tentar ouvi-lo e baixei a minha cabeça em direcção ao chão. Estive assim cerca de 5 minutos até ele acabar a sua ladainha e quando as vozes cessaram na minha cabeça, o revisor/condutor de autocarro afastou-se a apontou para o centro do armazém. Como que por magia, começaram a aparecer imagens que eu reconhecia. Os rostos que se cruzavam todas as manhãs comigo desde há mais de dez anos, os lugares por onde passava todos os dias em direcção ao meu trabalho, os corpos dos meus colegas movimentando-se no escritório, os meus filhos e a minha mulher à minha espera em casa, preparando uma surpresa aquando da minha chegada. Foram boas imagens que me fizeram sorrir ao mesmo tempo que chorava. Foi um bom momento no meio de tudo o que estava a passar.
As imagens lentamente foram passando de 2D para 3D e subitamente, mesmo ali à minha frente, observei as imagens a ganharem vida e a transformarem-se em realidade no interior do armazém onde estava. As pessoas falavam entre si, os seus pés faziam barulho ao deslocarem-se, o burburinho do dia-a-dia ganhava forma ali mesmo à minha frente, como por milagre.
Subitamente, todos param e olham na minha direcção e aquilo que era uma representação fiel da realidade que me rodeava todos os dias, transformou-se numa outra coisa inexplicável. Todos me identificaram, apontaram na minha direcção e começaram a deslocar-se na minha direcção. A deslocarem-se não... a correrem e a atropelarem-se para chegar até mim. No meio daquela confusão toda, vi a minha mulher a ser engolida pela multidão e os meus filhos a serem espezinhados como se de baratas se tratassem... Gritei com todas as minhas forças pelo nome deles, mas os meus gritos foram engolidos pelos gritos raivosos da multidão que corria, atropelava-se na minha direcção. Ainda assisti a vários colegas e amigos meus a ficarem sem olhos, sem partes do corpo que desapareciam no meio daquela mole que ganhava dimensões biblícas e que cada vez mais estava perto de mim. Aquilo era demais para mim. Aquilo era um suplício que eu não merecia. Estava perto da loucura.
A multidão estava já perto de mim e eu gritava só por gritar, sem qualquer sentido, sem qualquer intenção. Só me restavam os gritos e aos gritos recorria para combater o meu terror. Para ter uma ideia do que eu estava a passar, o barulho feito por aquela multidão era tal, que não consegui ouvir os meus próprios gritos. À medida que se aproximavam, consegui perceber que se queixavam, que também eles estavam a maldizer a minha existência, a clamar pelo meu nome seguido de classificações horrorosas da minha pessoa, das minhas vivências e dos meus actos. Desisti de gritar, pois já me tocavam e já consegui sentir os dedos deles a cravarem-se na minha carne. Senti o embate de todos aqueles que avançavam para mim. Foi de tal forma forte que, mais uma vez, perdi a respiração e quase que desmaiei, novamente. Tentaram arrancar o meu corpo da parede e não conseguiram à primeira tentativa, tal era a forma como estava preso. Investiram novamente e desta vez elevaram-me no ar, pois este era o único movimento que aquelas presilhas me permitiam, apesar de estar suspenso. Neste movimento consegui vislumbrar por cima das cabeças dos meus atacantes, o espaço à minha volta. Dezenas de corpos jaziam no chão, despedaçados pela violência da caminhada até à minha pessoa. Não consegui ver os meus filhos e a minha mulher, pois todos os corpos estavam bastantes danificados. Senti o sangue a subir pela traqueia e a alojar-se na boca quando aquele violento sacão chegou ao limite. Os meus músculos cederam com o impacto e rasgaram-se nos braços. A dor foi tão insuportável que me fez desmaiar, finalmente.
Aquele horror tinha acabado e em sua substituição veio em meu socorro sonhos de uma vida normal, de rotinas intermináveis e de sorrisos dos meus filhos e da minha mulher. Tudo isto sem dor, sem terror, sem medo. Estava a sonhar. Estava em tranquilidade e estva em paz.
Como deve calcular, foi uma tranquilidade que durou muito pouco tempo. Acordei neste quarto, precisamente à cerca de 4 horas, tempo que levei a escrever este manuscrito que espero que esteja a ler com toda a atenção. Os meus braços estão doridos e o meu corpo coberto de sangue. Não sei o que me irá acontecer, nem sei como lhe explicar isto. Sei apenas que me aconteceu e que tudo foi muito real. Sei que o número 74 tem um qualquer poder inexplicável capaz de transformar a sua vida de um momento para o outro. O que é que pode fazer? Pode denunciar este estranho evento a alguém correndo o risco de o chamarem de louco? Faça como quiser, mas divulgue-o e, por favor, denuncie o autocarro 74, denuncie os loucos que o conduzem e todos aqueles que me obrigaram a mim e se calhar a muitos outros a passarem por este tormento, por esta agonia, por esta violência.
Ouço barulho no exterior. São passos curtos e bem ritmados. Não consigo mexer-me, tal são as dores do meu corpo. A porta abre-se lá ao fundo e vejo dois vultos pequeninos empunhando uma espécie pau com uns ganchos na ponta.
Aproximam-se e começam a falar comigo. Não me dou ao trabalho de responder. De tal forma estou resignado a esta condição miserável que nem sequer paro de escrever esta carta quando me apercebo que são os meus dois filhos retalhados, com uma mistura de metal e carne nos seus corpos. Ouço o ranger dos seus membros. Noto que nas suas mãos está um “mata-sérvios” originário da segunda guerra mundial. Estes sinistros instrumentos era utilizados nos campos de concentração da Croácia, durante a segunda guerra mundial, e serviam para os Croatas matarem os sérvios de uma forma atroz. A ponta destes instrumentos era composta por 3 ganchos pontiagudos desenhados para simultaneamente furarem os olhos ao mesmo tempo que o gancho inferior penetrava na garganta provocando uma morte tenebrosa. Os meus filhos avançam para mim com estes instrumentos em punho e eu nada posso fazer. Estão já muito perto e começam a correr. Sinto o primeiro embate, uma dor, gritos infantis de prazer, os meus olhos...
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Américo Seiva ficou estarrecido com o que tinha acabado de ler. Sorriu. Recostou-se na sua cadeira e ficou a pensar no triste fim que aquele indivíduo teve. Várias coisas não batiam certo. Porquê insistir no facto do leitor também ter um triste fim? Não havia uma justificação no conto para criar aquele momento de suspense, nem sequer um desvendar do porquê.
Não havia também uma justificação para a presença da família do personagem principal ao longo dos vários momentos da história. Começam por estar do lado dos maus, no autocarro, inclusivé com a mulher a ser apalpada pelo revisor/condutor de autocarro, depois aparecem no meio da multidão a serem esmagados e por fim são os próprios filhos que dão a estocada final com o “mata-sérvios”. A própria personagem que supostamente encarna o diabo também não é consistente. Aparece e desaparece e não justifica o porquê de colocar o personagem principal naquela situação. Não existe uma ponta para se agarrar o passado do personagem principal e de alguma forma justificar a punição que teve.
A menção à banda Type-O-Negative é por demais evidente num conto de terror e a trama até tem alguma graça quando desenvolvida no comboio e depois no autocarro. Mas quando passa para o armazém a coisa roça o piroso.
De qualquer forma foi um bom passatempo. Enquanto a história desfilava perante os seus olhos esteve concentrado e até gostou, mas o desenlace não foi brilhante, ou melhor, poderia ter sido se houvesse um desenlace com alguma justificação.
Havia, de qualquer forma, alguns pormenores estranhos. Américo tinha acabado de comprar bilhetes para assistir ao concerto dos Type-O-Negative. O nº74 era de facto o autocarro de apanhava todos os dias e embora não tivesse filhos, a probabilidade de ter gémeos era grande, pois ele e a mulher estavam com dificuldades em engravidar e desde o ano passado que tinham optado por tratamentos de fertilização. O médico já lhes tinha dito que a probabilidade de terem gémeos era muito superior à probabilidade de terem apenas um filho. Havia inclusivé a probabilidade muito forte de terem trigémeos.
Era estranha também a menção aos 47 dias de cativeiro do personagem. Era o seu prazo para acabar um projecto que muito provavelmente iria mudar o rumo da sua empresa. 47 dias era o que restava para apresentar a sua proposta que no caso de vencer garantiria trabalho durante os próximos dez anos.
Estas coincidências eram de facto estranhas e de alguma forma inexplicáveis. Seria motivo para alarme? Que disparate! É um motivo excelente para uma boa risada.
Fechou a revista e ouviu o seu nome a ser pronunciado pela encantadora assistente do Dr. Saraiva – o seu dentista de sempre que o acompanhou desde que se lembra de ter dentes.
Entrou para dentro da sala e quarenta e cinco minutos depois, saiu com os seus dentes todos tratados e com um sorriso algures entre a novidade e a dor. Dirigiu-se a pé para sua casa e no caminho foi reparando em pormenores ao longo da sua rota, tal como fazia o personagem principal do conto que tinha acabado de ler. Reparou numa quantidade anormal de cartazes anunciando o concerto dos Type-O-Negative, aquele para o qual tinha acabado de comprar bilhetes, para ele e para a sua amiga de infância que o ajudou a crescer e a atravessar todas as fases que mais tarde o vão definir como pessoa. Desse passado restava os Type-O-Negative que finalmente decidiram prestar tributo a todos os seus admiradores neste cantinho. A sua mulher, Isaura, não gostava nada desta banda e por isso sugeriu que Américo matasse as saudades do seu passado juntamente com a sua amiga de sempre – Luísa. Sugeriu com uma pontinha de ciúme que Américo bem a sentiu, mas que não fez caso e que na verdade aproveitou a sugestão dela logo à primeira, pois certamente seria muito mais divertido viver estes momentos com alguém que atravessou juntamente com ele os tumultosos mares da juventude e da adolescência.
O concerto era já amanhã. Tinha trabalho para acabar em casa. Dirigiu-se para o metro e meia hora depois chegava a sua casa, vazia, pois a sua mulher Isaura estava no estrangeiro a participar num seminário internacional. Sentou-se à frente do seu computador e durante horas dedicou-se a enriquecer o seu projecto com data prevista de entrega a 47 dias do dia presente. Pensou várias vezes no conto e sempre que o fazia, sorria com as coincidências entre os detalhes da história e os detalhes da sua vida. Foi-se deitar e dormiu o suficiente para acordar bem disposto e com força suficiente para encarar mais um dia de trabalho.
Após o pequeno-almoço ligou logo para a Luísa para a relembrar do concerto de logo à noite e para combinar o encontro. Durante a conversa, Luísa disse-lhe que lhe aconteceu uma coisa engraçadíssima e que estava em pulgas para lhe contar, mas que o faria mais logo quando se encontrassem.
Cerca de 1 hora antes do início do concerto, Américo apitou à porta de Luísa para que ela descesse. Dez minutos depois, Luísa entrou dentro do seu carro, com o seu sorriso inconfundível e histérica por finalmente poderem saciar um desejo que lhes tinha sido privado durante a sua adolescência – assistir a um concerto da sua banda favorita – Os Type-O-Negative.
Durante o trajecto só falaram disso e quando chegaram ao concerto entraram imediatamente para o hall de entrada para comprarem uma t-shirt para ficar como recordação do concerto.
Beberam uma imperial e entraram propriamente dentro da sala de espectáculos. Falaram de muitas coisas, de como o emprego estava a decorrer, da gravidez adiada do Américo e da Isaura, dos vários casos que a Luísa mantinha ao mesmo tempo por ter deixado de acreditar nos homens, dos últimos livros que tinham lido, etc. A meio desta torrente de informação, Américo lembrou-se da história fantástica que esperava ouvir da Luísa. Ela gritou um Ah! e riu-se. E então contou-lhe que enquanto tomava o pequeno-almoço num café do seu bairro, à cerca de uma semana atrás devorou um conto de terror que embora não sendo nada de especial, apresenta umas coincidências extraordinárias com a sua vida, a começar pela referência do personagem principal aos Type-O-Negative. Américo arqueou as sobrancelhas e murmurou um Ena!. Vê lá tu que me aconteceu precisamente a mesma coisa enquanto esperava por ser atendido no meu dentista. A sério? – perguntou Luísa. Naquele momento, baixaram as luzes, surgiram fumos no palco. Luísa deu uma cotovelada no braço de Américo, confirmando que estava a chegar a hora. Américo, no entanto, queria continuar a conversa para tentar perceber se as coincidências eram as mesmas, mas Luísa fez-lhe um sinal para se calar e concentrar no palco.
O vocalista dos Type-O-Negative, surgiu em palco, enorme, com um ar diabólico e chegou-se ao microfone que tinha um formato estranho. Tinha três pontas, duas em cima e uma outra mais pontiaguda em baixo. Ouviu-se a voz dele, mas da boca não saiu um único movimento. Luísa olhou aterrorizada para Américo, também ele lívido pelo que acabava de assitir. As vozes ecoavam na cabeça deles enquanto o vocalista dos Type-O-Negative ria-se, guturalmente, sem abrir a boca. Agarraram-se um ao outro, Luísa a gritar de pavor e Américo estupefacto com o que estava a assitir. O vocalista dos Type-O-Negative pegou no microfone, agora facilmente identificável com um “mata-sérvios” e a multidão que assistia ao concerto começou a correr para eles, a atropelarem-se para chegar a eles, com sangue a escorrer por todos os lados e com vozes a ecoarem nas suas cabeças acusando-os das maiores atrocidades e lembrando-os de que eram seres humanos desprezíveis e que não mereciam viver.
Acordaram num quarto, doridos, com um poster dos Type-O-Negative na parede, uns enlatados, uma cadeira barcelona e um velho computador no chão da sala.
Sabiam o que tinham de fazer...

segunda-feira, abril 16, 2007


Finalmente estamos a chegar ao verão, ao calor, ao bom tempo. A luz de Lisboa está-se a revelar, sem timidez e com a força bruta que normalmente emprega nesta altura. O nosso verão está a chegar, o nosso bom tempo está a sobrepôr-se ao frio e aos dias incertos. E assim vai continuar até o próximo Outubro. Falo do nosso, porque nunca vi uma luz semelhante à luz de Lisboa. Aquela que mais se aproxima é provavelmente Atenas, mas a cidade é horrível e o encanto não se revela através da sua luz. É nesta altura que Lisboa se transforma numa cidade mágica, num lugar único que me enche de orgulho e que me posiciona como um cidadão sortudo. Venha o verão, venha a luz, estamos ansiosos com a chegada da Lisboa.

É esta Lisboa que eu a partir da próxima semana vou ter acesso na primeira fila. Todos os dias vou passar a acordar com Lisboa inteira aos meus pés e todos os dias vou dar graças por ter este previlégio. A casa está quase pronta e a mudança prestes a iniciar-se. Tudo novo, espaço grande e uma varanda de sonho são os principais atributos desde meu novo espaço de vivência. Vai ser a minha 5ª casa em quase 12 anos e provavelmente não desejo muito mais do que isto. Estou muito contente depois de cerca de 1 ano e meio de espera e muito milhares de euros investidos. O desânimo foi uma constante ao longo de todo este doloroso processo, mas agora as coisas estão a mudar de figura. Só faltava o sol e a luz... Agora já não falta nada.

A carolina já diz pai e mãe e também chocolate e pé e pijama. Já anda como se o diabo estivesse à solta no corpo dela e tagarela num dialecto imperceptível mas cheio de intenção. O afonso é mais discreto neste novos avanços. Preocupa-se mais com os objectos e com a forma como desatarrachar tampas e parafusos. É mais dado a outras coisas, como se estivesse sempre a trabalhar e a resolver problemas e situações. É engraçado também.

Como pensamento positivo para hoje deixo a banda Jesus and Mary Chain. Tenho andado a ouvir a sua discografia e fico sempre impressionado com a qualidade das suas músicas. á levam com mais de 20 anos de carreira e o seu som continuo actual. Nunca tiveram grande sucesso por se manterem fieis aos seus princípios. Por exemplo nunca se mudaram para uma editora major. Independentes até ao fim e isso tem muita graça tendo em conta todos os esquemas comerciais nos quais a música está envolvida nos dias que correm. As suas canções são autênticas e fáceis. Têm um som uniforme e de fácil reconhecimento ao longo de toda a sua obra. A sensação que se tem é que as músicas e o espírito alternativo lhes sai assim... sem mais nem menos... sem esforço. É-lhes inato e natural. Quem dera a muitas bandas conseguirem algo assim tão puro, tão genuíno, tão bom. Marcaram-me na minha juventude. Quando ouvi os seus primeiros albúns senti uma revolução cá dentro. O feed-back das guitarras com a melodia por trás impressionou-me. Foram uma das primeiras bandas que assisti ao vivo no pavilhão do restelo, juntamente com a Zá, já lá vão quase 20 anos. Foi um concerto razoável, na altura desiludiram-me um pouco, hoje em dia dou-me por muito contente ter estado lá. É mais uma história para contar aos meus filhos. Hoje em dia olho para trás e considero os JMC uma etapa na música pop7rock/punk seja lá o que for. Há poucas bandas assim.

terça-feira, abril 10, 2007


Escrever é um exercício que exige treino, disciplina e muita rotina. Rotinar os dedos, ou mais poeticamente, a caneta (cada vez mais rara nos dias que correm) é o segredo para se escrever e alimentar entre outras coisas um blog, um diário, uma crónica, uma coisa qualquer. Tenho andado a escrever pouco neste blog, mas por outro lado tenho escrito algumas coisas para os meus clientes e iniciei á cerca de dois dias uma ventura de escrever um conto de terror para o cineclube de terror de Lisboa. Tem sido uma experiência óptima. Escrever com objectivos é muito mais fácil, por um lado, por outro o cuidado que se coloca nas linhas que saem da caneta tem de ser muito maior pois trata-se de uma peça a ser apreciada por outros em que, indubitavelmente, a minha pessoa estará reflectida nela e sujeita a avaliações externas e por isso subjectivas.

Tenho lido bastante também. Ultimamente deu-me para ler coisas relacionadas com a minha profissão e com as últimas tend~encias da comunicação e do marketing. E tem sido muito agradável. Tenho descoberto tendências que realmente me interessam e que vão de encontro a bastantes considerações sobre a técnica da comunicação que possuo, embora nunca tenha tido a capacidade de as verbalizar. Chegar a essa conclusão é extremamente agradável. Finalmente estamos a deixar cair esterótipos estúpidos do marketing em que um mercado é visto como um campo de batalha e as empresas são forças que guerreiam entre si, esquecendo aquele que facto mais interessa - o consumidor. Estamos a atravessar uma revolução com a banalização da internet e com as novas possibilidades que ela nos oferece. Não é uma nova economia como advogavam há uns anos atrás. É sim um novo meio que está a transformar os nossos hábitos de consumo e a forma das empresas abordarem os mercados e os seus consumidores.

Num livro fantástico que recentemente li, escrito pelo Chris Anderson entitulado de "A cauda longa", este autor advoga que os hits estão a acabar. Esta é uma consequência da enorme capacidade que uma loja on-line oferece, sem custos de armazenamento e sem limitações de espaço, ou seja, com uma escolha tão grande, os consumidores têm a liberdade de percorrer todo um espectro que antes estava resumido à capacidade de uma prateleira dentro de uma loja. Daí a necessidade da criação de hits. Estes surgiam como consequência de uma incapacidade de respeitar os gostos dos consumidores, porque de facto não era possível derivado das limitações físicas de uma loja. Com as lojas virtuais isso acabou e mais... com a introdução de ferramentas de aconselhamento e opiniões emitidas pelos anteriores compradores, está-se a dar lugar a um verdeiro respeito pelos gostos das pessoas e a uma quantidade enorme de livre escolha. Daí a longa cauda que é uma representação de um gráfico de vendas. No início estão os hits com vendas absurdas e depois ao longo da cauda estão os restantes. Mas cada vez mais estes restantes assumem uma importância maior do que os hits, quer em termos quantitativos, quer em termos relativos. A regra dos 80/20 está pela hora da morte. estamos a chegar a uma regra dos 99/100. Muito interessante.

Os meus filhos já andam plenamente. A Carolina passa o dia a andar e o Afonso, embora mais preguiçoso, também já domina as suas pernas.

A nossa casa está pronta (finalmente!) Só falta a cozinha. Vamos mudar este mês.

Como pensamento positivo para hoje, deixo o livro do Chris Anderson. muito inteligente, extremamente bem escrito e potenciador de ideias para encara este novo e importante estágio que estamos a atravessar. Somos uns sortudos. Estamos em plena revolução de hábitos, sociais e de consumo e estamos a assistir da bancada VIP com todas as possibilidades de saltar para o palco. Estou optimista...

sexta-feira, março 16, 2007



Já faz mais de 1 mês que nada escrevo no blog. Muito aconteceu neste entremeio que me deu para não escrever. Começo pelas coisas más. A mãe da TT morreu de uma forma súbita e inesperada e acima de tudo muito chocante. De um momento para o outro começou a perder a memória e não conseguir relacionar as coisas. Foi para o hospital e diagnosticaram-lhe uma encefalite viral, ou seja, um vírus que se aloja no cérebro e vai fazendo das suas. Estava tudo a compôr-se, depois de uma semana acamada no hospital, quando o Pau-Pau liga-me a dar a notícia. Fiquei muito impressionado, muito mesmo. Depois foi a realização do velório e funerais e etc. No velório cruzei-me com toda a família e em conversa com o Manel soube que a Cândida tinha morrido de embulia pulmonar pelo facto de ter estado muito tempo sem locomoção. Trágico e um pouco sem sentido.
Foi também um período em que celebrei o meu 36º aniversário. Fomos sair nessa noite e foi bastante divertido.
Muito mais coisas haveria para dizer mas estou sem inspiração. Sem inspiração absolutamente nenhuma de pois de um mês ntenso de trabalho com poucas horas dormidas.
Como pensamento positivo para hoje deixo os meus filhos. O afonso e a carolina já praticamente andam e embora não falem estão quase a chegar lá. estão extremamente exigentes e encantadores. O grande problema é comerem. Estão demasiado excitados e ávidos de coisas novas que parar para comer é um desperdício. Deixamos de insistir para não tornar a hora das refeições um suplício e uma arma de arremesso deles contra nós. As refeições devem ser um momento de prazer, um momento de bem estar com muita boa disposição. Havemos de chegar lá.
O tempo está a melhorar. Já se sente os dias de praia. este fim de semana devemos fazer uma praia para matar saudades e para gastar a energia dos putos.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007


Para hoje, deixo a tradução de um artigo de Kevin Roberts sobre um novo estágio da comunicação e do consumo. Achei este artigo absolutamente fenomenal pois vai ao encontro de um conjunto de ideias que sempre defendi, mas que nunca consegui sistematiza-las ou sequer verbaliza-las de uma forma sintética e prática que permitisse alguma aplicação. Estas ideias sempre tiveram na minha cabeça mas de uma forma confusa. É esta capacidade que me falta e que distingue os génios das pessoas normais. Um dia destes espero chegar lá.

Em todos os artigos que tenho lido sobre as novas tendências da comunicação e do consumo, tenho notado o tom expresso neste artigo. Estamos a chegar a uma fase de transicção em que é preciso mudar e encontrar um novo caminho que permita uma adaptação às novas possibilidades que as sociedades de consumo nos oferecem. Agora sinto que estamos a chegar a uma fase realmente interessante em que se combinam as técnicas de vendas com uma psicologia de consumo (ao invés de se impor essa psicologia) e fundamentalmente centrada no indíviduo, independentemente das suas raças, credos e gostos. Primazia às emoções em detrimento das racionalizações, à criatividade em detrimento do conformismo. Algo de muito interessante está a acontecer.

O pensamento positivo de hoje vai para este sujeito - Kevin Roberts, que tão bem soube expor este novo sentimento, esta nova inquietação que abre inúmeras portas para o futuro e que o torna muito mais interessante.


Estamos a viver a idade da atracção
Ponto central da questão: Os marketeers devem ligar-se emocionalmente com os consumidores
Por: Kevin Roberts
Publicado: 29 de Janeiro, 2007 in Advertising Age
Adaptado do livro “The Lovemarks Effect: Winning in the consumer economy”, by Kevin Roberts

Os meus primeiros anos como profissional de marketing foram passados na Procter & Gamble e na gillette no médio oriente. Era comprar e vender no seu estado mais elementar. Cada rua tinha as suas especialidades, os seus cheiros, a sua própria comunidade. Naturalmente que surgiam aqui e ali alguns gritos e discussões, mas a maior parte das transacções eram resolvidas com base nas relações pessoais e na capacidade de despertar os 5 sentidos. Montras vistosas e perfumadas, o omnipresente momento de servir um chá, as últimas notícias e o constante movimento que caracteriza o bazzar... Absolutamente irresistível!
Deixar este mundo rico em texturas foi o próximo passo. Durante anos lutei contra a acéptica forma de consumir do mundo desenvolvido onde reinava a ausência de sentidos, intermináveis prateleiras e produtos perfeitamente empilhados. As pessoas não são feitas de linhas exactas. Cheguei a perguntar-me porque é que havia supermercados?
Depois veio a revolução digital e as regras começaram a ser quebradas, confundindo os retalhistas e os produtores com novas exigências escolhas e necessidades. O impacto da concorrência passou a ser uma obsessão quando as margens são baixas e os riscos elevados. Os meios tradicionais, o marketing e a publicidade foram apanhados numa corrida com retornos diminutos e ainda continuam a lutar para se recomporem e adaptarem-se à nova realidade ou continuam a tentar remar contra a maré.

De volta ao Bazzar
Hoje em dia há mais de um bilião de pessoas on-line a criar o maior Bazzar que o mundo já assitiu. Acrescente-se ainda mais 2 biliões de consumidores tradicionais e entramos numa nova era da comunicação. E o que é que isto me faz lembrar, mais do que qualquer outra coisa? O Souk de Casablanca. Nesta nova versão, 2 coisas são importantes: O que acontece no monitor e o que acontece dentro da loja. Em ambos conseguimos vislumbrar a forma do que eu preconizo no meu livro “the lovemarks effect” como a “Economia da Atracção”.
Este vai ser o ano em que a “Economia da Atracção” vai emergir. Assente no princ´pio básico da orientação dos produtores e retalhistas para os consumidores , o futuro pertencerá aos que conseguirem ligar-se emcionalmente com os últimos.
Embora a ideia da atracção seja simples, os maketeers desvalorizaram-na deixando-a nas mãos do tradicional mundo do showbizz. Ignoraram os detalhes implícitos no processo de atracção pessoal, um processo onde a emoção gera intimidade. As economias necessitam de moeda para que as ideias e os produtos possam fluir. A atenção humana é a principal moeda da “Economia de Atracção”; a emoção humana é o fundamento da “Economia de Atracção”. Identificar a emoção é difícil porque as suas complexidades não são mensuráveis. Basta pensarmos no valor do nosso rosto. Os nossos músculos faciais consegume mais de 10.000 combinações possíveis capazes de traduzir aquilo que estamos a sentir. A “Economia de Atracção” não é baseada no princípio de “One hit and you’re it”. Atracção exige emoção, mas emoção com um propósito.

Uma nova missão
Toda a gente está obcecada pela organização e as suas metodologias, parcerias e protocolos. O que realmente necessitamos é de pensadores criativos, pessoas que resolvam problemas e inovadores. O verdadeiro desafio está nas mãos dos que têm grande capacidade de atrair e de produzir as coisas que realmente interessam aos consumidores: música e design, jogos e lojas, parques de diversão e eventos, hotéis e entreternimento.
O surgimento da “Economia de Atracção” abre um novo mundo para os consumidores , marketeers, publicitários, editores, retalhistas, designers de jogos – todos nós!. A emoção colocada no coração daquilo que fazemos tem a capacidade de nos libertar dos espartilhos tradicionais que nos manteve à afastados.
O que conta é saber responder aquilo que as pessoas desejam e valorizam. Ninguém quer fazer parte de uma indústria que impinge às pessoas coisas que não necessitam. Vamos todos contribuir para proporcionar escolhas realmente atractivas e excitantes que possam fazer a diferenção na vida das pessoas.

Os 10 princípios da “Economia da Atracção”
1. Emoção atrai emoção: As escolhas emocionais são aquelas que mais contam porque elas propiciam a mudança. O neurologista Donald Calne diz-nos que a razão leva-nos a conclusões enquanto a emoção leva-nos à acção
2. Os sentidos atraem as emoções: Fragrâncias ricas, sabores satisfatórios e ambientes de tacto surpreendem-nos e deliciam-nos. As feromonas são mensageiros irresistíveis da atracção.
3. O gosto atrai o gosto: A empatia é a energia da “Economia de Atracção”. Nada atrai mais do que um profundo conhecimento das coisas que nos interessam.
4. Surpresa atrai prazer: As pessoas adoram o que é novo e diferente, excitante e estimulante. O mistério mantém a atracção viva
5. Interactividade atrai o compromisso: Seja através de um click, telefone ou uma peça gráfica, a partir de um momento em que assumimos um compromisso, estamos mais predispostos a fazê-lo novamente.
6. Histórias atraem memórias: 77% dos americanos conseguem identificar pelo menos 2 dos 7 anões.Apenas 24% consegue identificar 2 juízes do supremo tribunal de justiça. Onde é que está a diferença? Os anões têm melhores histórias para contar do que os juízes.
7. Entretenimento atrai contactos: As capacidades de um entertainer animam a “Economia de Atracção”
8. Música proporciona sentido: As pessoas encontram-se consigo próprias através da música há mais de 30.000 anos e hoje em dia temos a possibilidade de encontrar música à nossa medida
9. Comunidades atraem lealdade: Juntos conseguem. Separados conseguem comunicar através dos telemóveis.
10. “Lovermarks” atraem consumidores inspirados: Eles são as pessoas que adoram ser envolvidos. São apaixonados pelas suas marcas de referência, divulgam as suas experiências e inovam... de graça.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007


Que seria de nós sem vícios? Toda a nossa vida gira em torno de vícios e o tempo a correr não é nada mais do que evoluir ou passar de um vício para outro. São os vícios que nos fazem lembrar de que existimos e de que precisamos continuar vivos. Mas há vícios e vícios e por aqui vou-me concentra apenas nos bons vícios ou nos vícios de ócio. Presentemente adquiri 2 vícios que já fazem parte da minha rotina. São vícios que surgiram como consequência do meu novo e recente estádio de pai de família, portanto mais caseiro e condicionado pelo tempo dos meus filhos. São vícios defensivos às vezes, outras vezes de sobrevivência, outras vezes de pura gula e prazer. Todas as noites reservo o período logo após o jantar e depois de deitar os meus filhos ao visionamento de séries americanas no conforto da minha cama, com a minha mulher e com o computador nos joelhos. A acompanhar este vício vem o vício do chocolate. Pode ser em formato de gelado, de barra de chocolate, de qualquer coisa que contenha esse mágico alimento que nos vem inspirando desde que se tornou conhecido entre nós. Toda a gente gosta de chocolate, ou se não gosta, foi por um trauma ou uma incapacidade orgânica de ingerir esse alimento mágico. Deve ser dos assuntos mais consensuais no mundo inteiro. As crianças, os adultos, os velhos, os brancos, pretos, maraelos, mulheres, homens, polícias, ladrões, homicidas, suicidas, todos gostam e não fazem qualquer condescendência. O chocolate é uma bandeira, uma nação, uma poesia, uma fotografia das coisas boas que o mundo nos pode dar, um carimbo que nos certifica com animal com sorte e previligiados. Gosto muito de misturar chocolate com whisky e recentemente descobri finalmente o encanto e o poder do chocolate negro. Senti esta descoberta como aquele momento (que ainda estou à procura) em que se descobre o jazz e tudo o resto fica para trás. Ainda não descobri o jazz e francamente esse é um caminho que cada vez mais se tem revelado tortuoso para mim, mas ao menos já descobri o chocolate preto!
Estamos em contagem decrescente para o grande concerto dos nine inch nails. Para além de mim e da paula, a tt e o yannis, juntaram-se à festa o joca e o filipe. Vai ser estrondoso e bem que preciso de emoções e momentos assim.
O afonso está com problemas a dormir. A sua respiração é tortuosa e complicada ficando por vezes suspenso sem respirar o que causa muita confusão. Tenho feito vapores todas as noites. este momento tornou-se algo especial pois após vermos as séries de tv na cama este momento obriga-me a ler o grande Pepe Carvalho enquanto espero que o soro termine dentro do quarto deles. Por vezes torna-se impossível ler, mas a maior parte das vezes dá para ler uns capítulos e delicira-me com a prosa do grande maestro montalbán.
A casa vai avançando, lentamente, mas vai avançando. Estamos a contar mudar-nos em Março.
O emprego vai um pouco melhor, mas continua no mesmo marasmo. O que interessa é que o dinheiro entre mensalmente para pagar as monstruosas contas que estamos a suportar neste momento.
Como pensamento positivo para hoje deixo, claro, o chocolate! Toneladas de chocolate de todas as formas e feitios...

segunda-feira, fevereiro 05, 2007


Tal como o branding, hoje em dia está na moda o labeling. O labeling diz respeito à nossa capacidade de rotular tudo o que está à nossa volta. Rotular, classificar, localizar seja quem for, seja o que for. Tudo é passível de classificação, inclusivé o inclassificável. Estamos numa época de transicção em que tudo já foi inventado e divulgado, por isso é preciso canalizar a nossa criatividade, a nossa atenção e produção intelectual para outros campos. Gastamos essa energia a classificar o que falta classificar e como se não bastasse classificamos o próprio acto de classificar. Tenho pensado nisto e tenho andado à procura de traduções mentais que de alguma forma se possam socorrer deste labeling para podermos chegar à forma una de pensamentos e associações que ainda não surgiram. Por exemplo, criar uma agência especializada em promover bancas de feira. Para tal recorremos a uma teorização assente na história dos nómadas, nos grandes mercados cuja sua perfeita tradução são os bazares árabes - Estamos aqui a empregar uma técnica de "BAZZARING" - O bazzaring é a ferramenta perfeita para se emprender uma estratégia de sucesso junto dos seus clientes que o vão visitar às feiras. Para além disso tem um programa específico de software que o vai ajudar na logística muito especial agregada a este negócio.
Se continuarmos neste universo e evoluirmos para o estágio seguinte - as lojas - seria bom aparecer uma agència especializada numa das componentes de uma loja a que os clientes prestam mais atenção - os alarmes. Construir uma relação equilibrada, saudável e proveitosa entre os seus clientes e os alarmes das lojas deverá ser uma prioridade, por isso acabei de inventar o "ALLARMING". As potencialidades desta técnica garante resultados excelentes no que toca à fidelização e desenvolvimento de novos canais de comunicação.
Para terminar por hoje, sugiro ainda uma técnica revolucionária de aumentar a produtividade e a criativadade dos empregados em qualquer grande organização que é o "SMILING". O smiling não poderá ser encarado como uma obrigação. Deverá ser o reflexo do desenvolvimento de uma companhia envolvendo o seu maior potencial - os seus empregados. Desenhar campanhas de Smiling pressupõe conceitos revolucionários que transferem o poder de decisão para os empregados, garantindo assim um clima de harmonia e de verdadeira cooperação entre todos os elementos que compõem uma organização. As campanhas de smiling funcionam ao contrário das tradicionais campanhas de incentivo dentro de uma empresa. São os empregados que definem os objectivos dos patrões e se estes os atingirem serão pagos pelos próprios empregados, pagamento esse reflectido em sorrisos e logo em maior produtividade.

Tive um óptimo fim de semana. Deu-se um caso estranho no sábado. Os meus filhos dormiram 14 horas seguidas. 5ª, 6ª e sábado tiveram no jardim da estrela a queimar todas as suas energias na areia e no chão. Divertiram-se mas cansaram-se e vingaram-se nas almofadas. Domingo ainda fomos a setúbal almoçar choco frito e lá também tioveram direito a andar pelo chão, de gatas com directo a apanhar beatas e toda a espécie de porcarias a que tinham acesso. Foi divertido.

Como pensamento positivo para hoje deixo a série de TV Rome da HBO. Já estamos a ver a season 2 e o arrebatamento visual e de argumento é de facto memorável. Conseguiram cruzar de uma forma brilhante uma história pessoal de 2 indivíduos com os factos históricos da ascensão e queda de Júlio César na roma antiga. Brilhante e viciante.