segunda-feira, maio 14, 2007


Qual é a relevância das coisas? Como é que a relevância é quantificada, medida? Como é definida? A relevância passou a ser um termo muito utilizado na linguagem profissional. Subitamente, de um dia para o outro, passamos a pensar em coisas relevantes para os consumidores, a relevância de um produto para os clientes, etc. Ao longo desta última década, a moda de pegar em palavras para traçar um determinado rumo de uma empresa, de uma actividade tornou-se forte, passou a fazer parte das preocupações diárias do nosso dia-a-dia profissional. Além da relevância, estou-me a lembrar por exemplo da assertividade, da flexisegurança, que é mais do que uma palavra, da palavra sexy como adjectivo, enfim e muitas outras foram surgindo à nossa frente como prioridades, como caminhos a percorrer para atingir um nirvana profissional. Pessoalmente esta mania das palavras-chave sempre me irritou. Sempre declinei esta forma de pensar e de agir, pois parece-me artificial e pouco fundamentado. É uma forma de empurrar tudo o que está mal para debaixo do tapete e agarrar em novos lugares-comuns para justificar novos rumos e esquecer a porcaria que ficou para trás.

Mas a palavra relevância ficou-me na cabeça. Primeiro pela razão de ela começar a ser utilizada como âncora para os profissionais da comunicação e marketing. Estranho surgir assim quando deveria ser uma prioridades na criação de qualquer coisa. Em segundo lugar, porque quando vamos mesmo ao fundo das coisas para tentar encontrar a verdadeira relevância contida nelas, deparamo-nos com muitas surpresas desagradáveis. Há muita coisa com pouca ou nenhuma relevância à nossa volta e por estranho que pareça, mesmo assim sem essa relevância patente, por vezes elas funcionam e as pessoas preocupam-se e de alguma forma invertem a ordem natural e passam a torná-las, de alguma forma relevantes.

Desta forma chegamos a uma espécie de paradigma: A relevância deve ser estanque e pensada de antemão, ou, pelo contrário, ela é móvel, elástica e muitas vezes de geração espontânea?

Parece-me ser um pouco das 2 coisas. Pensar em algo sem pensar na sua relevância é uma atitude que me parece pouco inteligente. Tem de haver uma noção prévia da funcionalidade de uma criação e da relevância da sua impactação, do seu uso, em todos aqueles que vão beneficiar dela. Mesmo que seja de uma forma abstracta. Penso na arte. A relevância de uma obra de arte tem de ser importante, mesmo que no início seja incompreensível, mas que mais tarde irá contribuir para o ressurgimento e mesmo surgimento de uma série de eventos e tendências à volta dela. Por outro lado, a relevância tem de ser pensada de uma forma humilde, ou seja, tem de estar preparada para perder ou para ganhar outros sentidos e outras orientações ao longo do tempo de vida de uma determinada criação. A relevância é uma espécie de cozinhado que vai ganhando forma ao longo da sua preparação. Se se puser o sal errado, ou a especiaria incorrecta, a sua relevância vai ser diferente do que seria de esperar.

O fascinante da relevância é que ela é incontrolável. Esse cozinhado poderá ficar horrível e intragável e por isso ganhar uma grande relevância junto dos pobres coitados para quem foi preparado. O facto de estar horrível torna-se relevante no sentido de nunca mais comerem ali ou de perceberem imediatamente que aqueles ingredientes nunca poderão combinar. A relevância a extrair daquele momento tem muito mais importância do que se o cozinhado estivesse... digamos... normal. Seria mais uma noite, ou mais uma refeição que tinha passado. Tornar as coisas relevantes têm uma importância capital na nossa vida, mas não existe uma fórmula. A relevância é incontrolável e é moldável uma situação que comb ina uma data de elementos que nos escapam. A própria interpretação da relevância está dependente de cada um, que por sua vez combina a educação, o passado e tudo o que está intrínseco a um indivíduo naquele preciso momento.

Quando pensamos em relevância temos de pensá-la de uma forma muito básica. Temos de fazer tábula rasa dos nossos interesses e conhecimentos na altura e pensá-la de uma forma muito rudimentar para fazer valer as nossas criações. Esta é a forma mais aproximada que temos para controlar a relevância. Depois ela vai ganhando forma, vai-se transformando e caberá tentar antecipá-la e adaptar, corrigir, para que se possa manter essa relevância junto do maior número de pessoas possíveis.

Como pensamento positivo para hoje deixo uma ferramenta com uma relevância enorme para milhões de pessoas. O motor de busca GOOGLE, é de facto uma história de sucesso, cuja relevância `para o utilizador foi sempre uma prioridade, desprezando a relevância da comercialização que sempre guiou os casos de sucesso do nosso tempo. Teimaram numa direcção e conseguiram. Mas só isso não bastou. Continuam a criar funcionalidades à volta do google com uma eficácia brutal e muito bem feitos. É de facto uma ferramenta extraordinária e fruto de um tipo de posicionamento e de abordagem aos consumidores que considero de adulta, de sinónimo dos novos tempos que aí vêm. Estão ricos e nós os utlizadores estamos muito mais ricos também. O google é muito relevante!

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