quinta-feira, maio 17, 2007


Estamos a viver uma crise social ou será que estamos numa espécie de auge social? Não me refiro aquela crise de que toda a gente fala. Essa crise, embora dolorosa para todos, não é mais do que uma adaptação à real condição e capacidade produtiva do nosso país. Somos um mercado pequeno, com pouca capacidade de consumo e com uma cultura virada para dentro, com medo e receio do exterior. Há uns anos atrás estávamos em plena folia, com ordenados injustificados e com aquela arrogância de um país muito rico, quando na verdade essa é uma situação insustentável para nós. Falo de uma crise de valores, de ideias. Estamos a atravessar uma espécie de revolução em que estamos a assistir a uma série de agilização de processos e simultaneamente estamos a viver um verdadeiro processo de globalização, com possibilidades ilimitadas de impactarmos outros mercados, outros consumidores. Com a web e com o processo de maturação da web, basta apenas muito querer e bastante imaginação para nos expandirmos e para explorar novas áreas e formas de negócios. É um maravilhoso novo mundo que temos pela frente - esta é a vertente positiva da coisa - o auge social. No entanto existe o outro lado. Tudo se agilizou, tudo é permitido e possível e portanto não temos de nos preocupar com avanços e revoluções. Vivemos oprimidos pela frase "já está tudo inventado".
Esta na verdade é uma questão muito delicada. Quais são os sintomas que nos indicam que tudo isto é positivo ou negativo? Paira um nuvem de optimismo para a nova geração com uma multiplicidade de novas portas abertas por onde poderão desenvolver os seus percursos profissionais. Paira também uma grande nuvem de pessimismo para todos aqueles que sempre trabalharam na dependência de outros e que cresceram a pensar que um emprego era para toda a vida. Falo dos mais velhos, um pouco mais velhos do que eu, que neste momento estão na casa dos 50 anos. Muitos têm sido os despedimentos em massa, com situações agonizantes para todos estes indivíduos. Esta é sem dúvida uma situação dramática e mais dramática se torna no nosso país agrilhoado ao passado, com poucos recursos e uma população pouco activa e imaginativa. As regras são dos outros e nós temos alguma dificuldade em segui-las e muitas vezes em compreendê-las.
O optimismo também aparece nas novas super empresas com os seus produtos já assentes numa outra lógica muito mais virada para o consumidor. Lembro-me, novamente do google. Por outro lado estas empresas que por enquanto nos parecem uma lufada de ar fresco, têm obviamente princípios um pouco fascistas com o domínio de todos os mercados onde actuam e com a paranóia de aniquilamento da concorrência que os circunda - veja-se o caso da microsoft, por exemplo. Esta época que atravessamos, assente no princípio (filosófico?) do "politicamente correcto" impede-nos de formular cenários perto de ditaduras e de absolutismos de acordo com os modelos clássicos. Mas elas existem e de uma forma muito escamoteada. Veja-se o que está a acontecer em Itália desde há uns anos a esta parte com o Berlusconi (esse sim um verdadeiro fascista). O magnata da comunicação social e do futebol, torna-se dirigente de um país que pertence ao G7, anuncia ventos de liberdade e de respeito a todos os Italianos e permite uma total liberdade de expressão nesse fascinante país. Mas por trás compra todos os meios de comunicação social supostamente independentes e privados de itália e domina todos os meios públicos derivado da sua condição. Este homem parece-me claramente um ditador moderno. A acompanhar este novo desenvolvimento, esta primavera social estão estas novas formas de domínio, de poder que ainda estão muito bem disfarçadas e que nós ainda as levamos quase a brincar. Vamos ver como isto evoluirá, como se apresentará aos nossos olhos dentro de alguns anos (menos do que nós pensamos).

Uma coisa é certa. A lógica do dinheiro ganhou. Os valores subjugaram-se ao dinheiro e ao consumo. Resta descobrir no meio desta nova selva como nos posicionar para termos uma vida tranquila e ao abrigo destes ursos ferozes que agora saltaram para a ribalta e que estão a desenhar e a aplicar as novas regras sociais.

Apesar de tudo estou confiante e optimista. Mais oportunidades, mais possibilidades encontram-se ao nosso dispôr.

Como pensamento positivo para hoje deixo um espantoso livro que estou a ler. Trata-se de um ensaio sobre o século XX, onde o autor - Niall Fergunson intenta numa abordagem radicalmente diferente daquela a que estamos habituados a encarar os factos históricos do século passado. A exemplo disso é a teoria que ele sustenta no livro de que a primeira guerra mundial aconteceu por acaso e não como consequência do estado económico do mundo. Toda a análise que ele faz é bastante pertinente e obriga-nos a levantar muitas questões sobre tudo o que aprendemos até agora sobre aquele século. O livro é a Guerra do Mundo e é a todos os níveis um livro espantoso.

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