quinta-feira, fevereiro 01, 2007


Desde que dei as aulas na etic que a questão à volta da teorização das marcas, ou o brand marketing, me tem interessado muito. Nunca me interessei muito por estas teorizações estúpidas à volta dos assuntos de marketing, mas esta tem merecido a minha atenção e tenho usado frequentemente na construção temática das minhas propostas para clientes. Muito se tem falado sobre, o valor de uma marca, o que pode representar para um consumidor, a sobreposição da marca à própria publicidade, etc. Os produtos estão a ser ultrapassados pelas marcas que os representam. Cada vez mais a noção de produtos bons e maus está a desaparecer. São todos bons, o que interessa é o valor acrescentado que ele vai gerar para a minha vida enquanto pessoa, perdão, enquanto consumidor. Eu consumo, logo sou. É um princípio preocupante que tem vindo a ganhar terreno de uma forma avassaladora e que tem moldado a face da nossa sociedade de consumo. As pessoas estão a entrar numa fase de amadurecimento no consumo e apenas escolhem aquilo que supostamente lhes assente independente do preço e da qualidade do produto - tudo centrado na marca. Será isto amadurecimento? Talvez sim, talvez não... Eu diria que estamos a entrar numa nova fase de consumo, numa nova fase de socialização em que o sistema de consumo venceu, em que as pessoas se renderam definitivamente ao conforto do material, à relegiaão do materialismo assente na doutrina do consumismo. Passamos de cidadãos a consumidores e estamos mais gordos, mais desisteressantes e mais conservadores, mais resignados.

As marcas e as empresas não têm de se adaptar a esta nova condição. Foram elas que a criaram e por isso deverão entrar sim num novo nível de comunicação para chegar ao cosumidor, para ele se poder afirmar enquanto pessoa, sempre através de logotipos, de marcas que estão a passar de efémeras a imortais. Tudo isto é muito grave. Mas acima de tudo, antes de grave será diferente. Estamos a forjar novas regras centradas no indivíduo. Dentro em breve vai deixar de haver empregos, para passar a haver negócios e oportunidades. Estamos numa fase que se poderá caracterizar de avant-retro, ou seja, o futuro é cada vez mais parecido com o passado. Toda esta realidade está-se a transformar e estamos a passar da empresa multinacional para o bazar. O mundo está-se a tornar num grande bazar em que todos podem ter a possibilidade de oferecer algo a todos. Este bazar tem um nome: Web ou internet. Graças a este poderoso meio, tudo se está a transformar e nada será como antes. Mas apesar de tudo esta perspectiva não me desagrada. Prevejo uma distribuição mais equitativa da riqueza, no entanto menos segurança profissional. As boas ideias vão passar a ser muito valorizadas, mas com um tempo de vida muito curto. Estou muito expectante e muito entusiasmado. Falta apenas uma centelha de preocupação com a humanidade. As marcas estão a tentar usar isso para promover as suas mais recentes estratégias de abordagem ao mercado, mas não é autêntico pois tudo é dirigido para atingir o lucro, para vender os seus produtos e os seus serviços. Mas havemos de chegar lá.

Estou a ouvir o último albúm dos arcade fire. Canadianos são uma honrosa execpção, verdadeiramente original no triste panorama da música actual. Saquei-o da net, como é óbvio, estou a ouvi-lo no meu computador e nem sei como é a capa. Tudo novos sintomas desta neo-cidadania. Para hoje, o pensamento positivo vai para esta banda e para o seu albúm de estreia de 2005 - funeral. Verdadeiramente fora de série.

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